O Tribunal de Aveiro condenou hoje a 23 anos de prisão um homem acusado de ter esfaqueado mortalmente a mulher, de quem estava separado, e o novo companheiro desta em Sangalhos, Anadia..O crime aconteceu na manhã do dia 20 de agosto de 2015, na residência das vítimas..Durante a leitura do acórdão, o juiz presidente disse que o tribunal "ficou convencido" dos factos que eram imputados ao arguido, dando como provada a acusação "quase na íntegra"..O homem foi condenado nas penas parcelares de 19 e 17 anos de prisão pelos homicídios da ex-companheira e do companheiro desta, respetivamente..Em cúmulo jurídico, foi-lhe aplicada uma pena única de 23 anos de prisão..Após a leitura do acórdão, o juiz presidente dirigiu-se ao arguido dizendo que a sua conduta é "uma das mais gravosas do Código Penal", sublinhando que "conseguiu privar o filho da mãe".."Esperamos que o tempo de reclusão o leve a pensar no desvalor da sua conduta", concluiu..À saída da sala de audiências a advogada de defesa do arguido, que pediu a desqualificação dos crimes para homicídio na forma privilegiada, disse que ainda não sabe se vai recorrer da decisão..Durante o julgamento, o arguido confessou os crimes, mas alegou ter agido em legítima defesa. "Eu não queria matar ninguém. Fui lá só para buscar os meus bens", relatou ao tribunal..O duplo homicida contou que estava a ter "uma conversa normal" com a ex-mulher, quando surgiu o novo companheiro desta que foi à cozinha buscar uma faca para o atacar.."Eu consegui tirar-lhe a faca. Se calhar devia ter sido cobarde e fugido. No fundo defendi-me e ataquei", disse o arguido..O suspeito do duplo homicídio negou ainda ter raiva à mulher e disse não saber como é que esta foi esfaqueada, mas após a insistência do juiz, reconheceu ter matado ambos..[artigo:4955341].Segundo a acusação do Ministério Público (MP), o arguido esfaqueou a mulher, de 41 anos, e o seu novo companheiro, de 43 anos, e abandonou o local, deixando as vítimas prostradas e a esvair-se em sangue..Poucas horas após ter praticado o crime, o suspeito entregou-se voluntariamente na esquadra da PSP de Aveiro..A acusação refere que o arguido pediu um período de férias ao seu patrão para preparar e executar os crimes, nomeadamente apurar as rotinas diárias das vítimas, tendo agido com "especial censurabilidade ou perversidade"..De acordo com os investigadores, o suspeito desenvolveu um "ódio profundo" pelas vítimas, por não se conformar com a separação do casal, nem com o facto de a mulher, com quem tem um filho menor, ter entretanto iniciado uma nova relação amorosa..Estes sentimentos ter-se-ão agravado, pois a mulher tinha a intenção de se divorciar para poder estar livre na sua nova relação e porquanto se encontrava em execução a partilha de herança do pai da vítima, refere o MP.