Em 2021, 1,7 milhões de pessoas encontrava-se em risco de pobreza em Portugal. Isto significa que viviam com redimentos inferiores a 551 euros mensais. A Pordata divulga, esta terça-feira e no âmbito do Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, um conjunto de dados que fazem um retrato do nível de pobreza da população portuguesa..O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) revela que é entre os mais velhos (65 anos ou mais) e as crianças e jovens (menos de 18 anos) que a taxa de risco de pobreza mais diminuiu. No entanto, são estes os grupos que evidenciam maior vulnerabilidade já que apresentam taxas de risco de pobreza superiores ao conjunto nacional..Desde 1987 que a 17 de outubro se celebra o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza..O início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022 causou o aumento da inflação e, consequentemente, dos preços de bens e serviços. Em 2022, a taxa de inflação em Portugal atingiu os 7,8%. Em 2021 esta taxa estava nos 1,3%. Nos anos anteriores tinha-se registado a recuperação do poder de compra do salário mínimo nacional, no entanto, o agravamento da inflação veio abrandar este aumento..Atualmente em Portugal, o salário mínimo nacional está fixado em 760 euros. Em setembro de 2023, os produtos do cabaz de compra representativos das despesas das famílias das famílias estiveram, em média, 12,2% mais caros do que no início de 2022. Isto significa que uma pessoa que receba o salário mínimo vê o seu poder de compra a reduzir para 678 euros..Os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas são exatamente aqueles que sofreram um maior aumento em 2022. Nesta categoria, os produtos que sofreram um maior aumento de preço foram os óleos e gorduras (aumento de 32,5%) e a carne (15,5%). Segundo a Pordata, Portugal foi o 11.º país da União Europeia com a maior subida dos preços dos produtos alimentares. Esta foi uma das categorias em que o país supera a taxa de inflação média da União Europeia..Em 2022 houve um aumento da proporção da população sem capacidade financeira para assegurar uma refeição de carne, peixe ou equivalente vegetariano de dois em dois dias..A habitação, água, eletricidade e gás; os restaurantes e hotéis; os transportes e os acessórios para a casa, são as categorias de produtos cujo preço mais aumentou em 2022. Em todos estes produtos o país registou um aumento superior ao da União Europeia..No início de 2022, 29,2% das pessoas não tinham capacidade para assegurar o pagamento de despesas inesperadas e 6,1% afirmaram mesmo ter atrasos em alguns dos pagamentos relativos a rendas, prestações ou créditos..Os preços das casas em Portugal têm vindo a aumentar numa maior proporção do que os salários das pessoas. Em 2022, registou-se um aumento de 90% no preço das casas em relação a 2015, um valor acima daquele registado na União Europeia (48%). Tendo em conta o aumento das casas com a variação dos salários médios, face a 2015, os salários em Portugal aumentaram 20%, aquém do aumento de 90% das casas..Dados do Instituto Nacional de Estatística revelam que, no 1.º trimestre de 2023, os preços já tinham aumentado 99% e no segundo trimestre aumentaram 105%..Este ano, a plataforma Casa para Viver já organizou duas manifestações em várias cidades do país contra a precariedade e o aumento do custo de vida. Este grupo pede a intervenção do Estado no mercado e reafirma que o pacote de medidas Mais Habitação, aprovado no parlamento no mês passado com votos favoráveis apenas do PS, não é suficiente para resolver os problemas que se vivem atualmente no país..Também a subida das rendas tem aumentado a sobrecarga financeira dos inquilinos. Entre 2015 e 2022 as rendas aumentaram 15,8%. Este é um valor que na União Europeia se fixou nos 10%..29,4% das pessoas estava, em 2022, em sobrecarga financeira, ou seja, com pelo menos 40% do seu rendimento destinava-se a suportar os custos da renda da casa. É necessário recuar ao período entre 2012 e 2016 para encontrar valores semelhantes. Nessa altura ,30% do total de inquilinos estava em sobrecarga financeira, tendo este valor chegado mesmo aos 36% em 2012. Na União Europeia, desde que há registo deste indicador que o valor não ultrapassou os 27,1%..sara.a.santos@dn.pt