Tamila: 16 anos, 22 recordes e muitas promessas para o futuro

Tamila Holub é a Katie Ledecky portuguesa: uma adolescente capaz de quebrar todos os recordes absolutos de longa distância. A bracarense, de origem ucraniana, quer ir ao Rio 2016
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Podem chamar-lhe a "next big thing" da natação nacional ou a Katie Ledecky portuguesa, mas ela já ganhou direito a ser conhecida pelo nome próprio. Com 16 anos, Tamila Hryhorivna Holub é detentora de 22 recordes nacionais de longa distância (dos 400 aos 1500 metros livres), incluindo cinco absolutos. A nadadora do Sporting de Braga, de origem ucraniana, ambiciona ir aos Jogos Olímpicos deste ano... e alcançar muito mais no futuro. "Se é para sonhar, que seja em grande, para sentir aquele gosto especial quando o alcançarmos", aponta.

Tamila Holub é um fenómeno adolescente, evoluída dentro das piscinas e com discurso maduro fora de água. Em 2015, fixou novos recordes nacionais absolutos nos 800 e 1500 metros livres, tanto em piscina curta como em piscina longa. E no mês passado juntou-lhe um novo máximo absoluto dos 400 m livres em piscina longa (4:17.92). "Em meio ano, bateu 14 recordes [incluindo de juniores]. Nunca tive uma atleta tão nova com este potencial. Vejo-a evoluir de treino para treino", elogia o seu treinador, Luís Cameira.

Aos poucos, o país vai conhecendo a história da nadadora, nascida a 15 de maio de 1999, filha de imigrantes ucranianos, que chegou a Portugal com cerca de 2 anos. Tamila Holub não teve uma relação de amor à primeira vista pela natação, que começou a praticar aos 6 anos, "para não ter doenças respiratórias". No início, "era uma brincadeira". Mas o apoio dos pais e a descoberta do seu potencial levaram-na a querer mais e mais. "O incentivo que os meus pais me davam só por receber um prémio de participação fez-me pensar que quem me dera trazer mais medalhas. E ao ver que conseguia fazer o mesmo que as outras faziam fui ficando motivada", conta ao DN.

Agora, Tamila faz mais do que as outras - mesmo seniores. E o sucesso na longa distância faz dela a versão portuguesa da atual menina-prodígio da natação mundial, Katie Ledecky (18 anos e nove títulos mundiais seniores no palmarés, entre 200 e 1500 metros livres). A nadadora de Braga não esconde a admiração pela norte-americana: "Alguém que diz que gosta de sofrer merece muito respeito. Ela é um exemplo de ambição, trabalho e dedicação extrema."

Luís Cameira vê atributos semelhantes na nadadora lusa, que compara a um exemplo mais próximo, a espanhola Mireia Belmonte. "A Tamila é muito ambiciosa. Não é uma atleta que fique contente só por participar em grandes provas: fala em medalhas, fala em títulos. E nunca está cansada: mostra-se sempre disponível para novos desafios", destaca o treinador.

Cameira, de 48 anos e a cumprir a 11.ª época como treinador do Sp. Braga, ainda se lembra de quando aquela rapariga, com 9 ou 10 anos, chegou aos primeiros treinos nas piscinas do Complexo Desportivo da Rodovia. "Na altura, dava muitos erros técnicos. Não notámos nada de especial. Só quando passou para o escalão de infantis é que percebemos que estava ali uma máquina diferente das outras miúdas. Ela melhorou muito tecnicamente. Enquanto juvenil começou a bater recordes e nunca mais parou", descreve.

Ambição sem "perder o foco"

Em pouco tempo, Tamila Holub tornou-se a bandeira da natação do Sp. Braga e uma referência para a centena de nadadores que compete pela equipa minhota - como um dia foram Ana Alegria e Raquel Felgueiras, nomes históricos a nível nacional. Mas a sua ambição não se contém no Minho ou sequer em Portugal: em 2015, como júnior de primeiro ano, foi 9.ª classificada nos 1500 m livres, no mundial do seu escalão. Neste ano, já tem mínimos para os Europeus de seniores (25 a 29 de maio, em Londres, Reino Unido) e de juniores (6 a 10 de julho, em Hódmezovásárhely, Hungria) e sonha com a participação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

O objetivo é conquistar o apuramento em 800 m livres - está a seis segundos dos mínimos. "É um tempo antigo, que posso melhorar. Acho que consigo lá chegar: é só manter a cabeça no sítio, não perder o foco e subir um degrau de cada vez", afirma a nadadora. O discurso, cuidado mas ambicioso, é a prova da "qualidade e disciplina" que Luís Cameira tanto elogia na atleta. Para o técnico, ir ao Rio 2016 "não é um sonho impossível". "Seis segundos pode parecer muito, mas numa distância longa como os 800 metros não é. Até dezembro, ela evoluiu 13 segundos em piscina curta. Agora, só precisa de metade", explica Luís Cameira.

Quanto aos Campeonatos da Europa, serão duas experiências diferentes. "Estou ansiosa por saltar para a água em Londres. Nadar com os melhores da Europa é uma motivação enorme", diz Tamila. Já em Hódmezovásárhely, onde a portuguesa tem dos melhores tempos de qualificação nos 800 e 1500 m livres, a ambição é maior: "Se conseguir lutar por algo mais, não vou desperdiçá-lo", garante.

Tudo isto é conseguido enquanto a nadadora tenta conciliar os estudos (terminou o 10.º ano com média de 17 e quer entrar em Medicina) com 25 horas de treino por semana (70 a 75 quilómetros dentro de água), mais trabalho de ginásio e deslocações: "Gosto do sentimento do dever cumprido, quando tudo corre bem", diz Tamila. Se tudo continuar a correr assim, como planeado, a adolescente estará certamente em Tóquio 2020. "Não sei onde posso chegar. Quero ir o mais longe possível: quem é que nunca sonhou com uma medalha olímpica? Mas sei que é muito cedo. Tenho de manter a cabeça no sítio", concluiu.

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