103 doentes morreram à espera de rim

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Aumento da colheita de órgãos é meta do País

No ano passado morreram 103 portugueses enquanto esperavam por um transplante de rim. Em lista de espera estavam 2293 doentes, 595 dos quais entraram em 2006. Os dados sobre a situação portuguesa, divulgados pela Comissão de Transplantes do Conselho da Europa denotam não uma ausência de centros de transplante, mas sim constrangimentos na colheita. Portugal tem 20,1 dadores por milhão de habitantes, mas luta para se aproximar dos níveis espanhóis (33,8 dadores).

Apesar de haver oito centros com valências para transplante de rim no País, a espera continua a ser uma das maiores entre os vários órgãos, sendo calculada num mínimo de três anos. O número de transplantes renais tem vindo a crescer, mas mantém-se abaixo dos dados de 1996.

Porém, a mortalidade não tem como única razão o tempo de espera. Segundo Eduardo Barroso, presidente da Autoridade para os Serviços de Sangue e de Transplantação (ASST), "nem todos são vítimas de insuficiência renal, podendo falecer na sequência de doença ou de outras causas", diz ao DN. Ainda não existem dados sobre a espera associada a outros órgãos, mas Maria João Aguiar, coordenadora nacional de colheitas da ASST, espera que até, "ao final do ano, se conheça o número de doentes à espera de outros órgãos". No futuro, esta informação detalhada estará acessível ao público .

Os transplantes de rim ascenderam a quase 40 por milhão de habitantes no ano passado, a maior parte dos quais (35,8) a partir de um dador cadáver. Mas é precisamente através dos dadores vivos que há mais hipóteses de reduzir a lista de espera. Eduardo Barroso refere haver duas formas de encurtar a lista: "Aumentando a colheita em dador cadáver ou através do programa de dador vivo."

A lei que permite a dádiva de órgãos em vida a casais e amigos, publicada há dois meses, é uma das ferramentas essenciais para aumentar o número de órgãos disponíveis. A lei de 30 de Junho depende agora da regulamentação, que já está pronta, segundo garante o presidente da ASST. A directiva está agora a ser analisada pelos administradores hospitalares, sendo de esperar que seja publicada a partir de Setembro.

O cirurgião explica que "já há muitas pessoas interessadas, especialmente casais". Por isso prevê um "boom" logo que a lei seja implementada, uma vez que muitos processos já estão em curso e em análise.

Em Portugal, o número de dadores está estacionário desde há dez anos, lembra Maria João Aguiar. Segundo uma newsletter de 1997 do Conselho a Europa, o número de dadores era, até, ligeiramente superior (21,2 por milhão). O que mudou, desde então, foi o número de transplantes realizados, com excepção do transplante de rim com dador cadáver. Há dez anos, apenas se faziam 0,3 transplantes renais por milhão de habitantes, com dador vivo, quando hoje estamos próximos de 4.

Os transplantes de coração cresceram mais de 300% em dez anos, ascendendo a 3,8 por milhão, cerca de metade do líder europeu neste tipo de intervenções, a Bélgica.

A nível hepático, Eduardo Barroso salientou que Portugal é um dos "países mais activos da Europa", tendo realizado 225 transplantes em 2006. Apenas foi ultrapassado pela Espanha e Bélgica. No transplante de pulmões estamos, pelo contrário apenas um pouco melhor do que a Grécia, com dois transplantes realizados. Maria João Aguiar disse que "foram desaproveitados 14 pulmões, que foram para Espanha". Em causa estão dificuldades estruturais e profissionais e o facto de ter uma maior taxa de insucesso.

Em 2006 foram realizados 94500 transplantes no mundo e a média de doações na Europa dos 27 ascendeu a 17,8 por milhão de habitantes. Espanha é a líder na colheita, com 33,8 dadores por milhão, e no transplante de vários órgãos. A Roménia e outros países de Leste apresentam os piores indicadores europeus.

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