Resposta Triangular à Crise Global

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«Somente Trump pode ainda salvar o Ocidente».

A hipótese académica foi proposta, nos idos de 2017, por um então desconhecido Ernesto Araújo. Desde essa data, contudo, que o nome do diplomata brasileiro tem ocupado incontáveis páginas de jornais de todo o mundo.

Escolhido pelo Presidente Jair Bolsonaro para ser o seu Ministro das Relações Exteriores, Araújo, que participa hoje no IX Encontro "Triângulo Estratégico: América Latina - Europa - África", defende para o Brasil uma política de alianças baseada mais em fundamentos ideológicos e princípios civilizacionais do que nos alinhamentos político-diplomáticos proclamados nas últimas décadas pelo tandem Planalto-Itamaraty, questionando a própria essência liberal do multilateralismo.

Trata-se de um dos protagonistas mais disruptivos da ordem internacional, que irá apresentar, na iniciativa organizada esta terça e esta quinta-feira pelo Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL), a sua visão sobre o papel da América Latina - ator ou espectador - na ordem pós-liberal. No mesmo painel, Araújo será acompanhado por Téte António, o Ministro das Relações Exteriores de Angola, que irá explicar o atual posicionamento global de Luanda e a sua perspetiva sobre o futuro das relações intercontinentais de África.

Porém, o novo responsável máximo pela diplomacia do Governo de João Lourenço, cujas decisões continuam a ser incontornáveis na agenda externa das instituições e empresas portuguesas, não é o único alto representante angolano que aceitou o desafio.

Bornito de Sousa, o Vice-Presidente de Angola, estará no encerramento desta iniciativa, para partilhar a visão reformista do executivo de Luanda e as suas prioridades políticas para o pós-Covid.

Mas a centralidade de Portugal no âmbito das relações Sul-Sul, mantendo o nosso país como hub desta dinâmica atlântica, é também reconhecida por António Rivas Palacios, o Ministro das Relações Exteriores do Paraguai, e, claro, pelo chefe da diplomacia portuguesa Augusto Santos Silva. Os dois governantes irão discutir as forças e fraquezas da Iberoamérica, no dia 23, juntamente com a Secretária-Geral da SEGIB, Rebeca Grynspan.

De facto, um país com a história política e a cultura diplomática de Portugal tem o dever de convocar e reunir - ainda que, hoje em dia, apenas de forma virtual - os decisores públicos e privados de América Latina, Europa e África, bem como os especialistas dos três continentes com conhecimento e autoridade para influenciar esses mesmos decisores, procurando soluções que beneficiem os três continentes. Com efeito, se há uma altura da história recente em que precisamos desesperadamente desse esforço cooperativo é agora.

"Resposta Triangular à Crise Global" é, assim, o mote lançado a estes Ministros, a que se juntam think tanks, fundações, universidades e organismos internacionais, para refletirem sobre os recursos físicos e o talento humano que se encontra reunido nos três vértices deste triângulo virtuoso e para apontarem caminhos partilhados, de recuperação dos danos provocados pela pandemia.

É convicção do IPDAL que, sem prejuízo do nosso vital compromisso com os Estados Unidos, os interesses de Portugal vão jogar-se cada vez mais nos eixos africano e latino-americano. A nossa capacidade de intervenção na ordem internacional - que ainda não terminou de se definir, oscilando entre o bipolar, o multipolar e, nas palavras do Secretário-Geral da ONU, o "caótico" - será tanto mais forte, diferenciada e reconhecida pelos restantes Estados, organismos internacionais e empresas multinacionais com quem nos relacionamos, quanto mais sólida for essa agenda comum.

Finalmente, de modo a responder à mais do que reiterada deslocação de riqueza, e subsequente transferência de poder, económico e militar, para a Ásia, as nações atlânticas encontram-se hoje na obrigação de procurar soluções conjuntas, para os seus próprios desafios. Afinal, é na América Latina e em África que se reúne o maior potencial demográfico, energético, agrícola, económico e territorial do planeta.

O IX Encontro "Triângulo Estratégico: América Latina - Europa - África" realiza-se nos dias 21 e 23 de Julho, em formato webinar, entre as 17h00 e as 19h00. É de acesso livre e gratuito.

Filipe Domingues
Secretário-Geral do IPDAL

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