Como nasce este projeto? Como conseguiu que um filme não profissional chegue a 50 salas?.No curso da minha escola, a ACT, os alunos do terceiro ano têm exercícios práticos, quer em teatro quer com uma câmara para técnicas de cinema. Ora bem, o Vincent Alves do Ó, que é o professor permanente de cinema, o ano passado desafiou-me: porque não fazermos um filme com um guião que ele tinha? Um filme com a ambição de, quiçá, vir a estrear-se. Como adoro desafios, disse "bora lá"!..Eu e a Elsa Valentim, a diretora pedagógica da escola, lemos o guião, e decidimos avançar. A ACT é uma escola que é uma associação sem fins lucrativos, não tem dinheiro, mas decidimos avançar para este filme! A mistura com atores da escola e os profissionais pareceu-me muito interessante. Na altura fomos ter com a NOS Audiovisuais que se mostrou logo interessada. Depois de uma segunda versão de montagem quiseram logo estrear com uma aposta grande de chegar a cinquenta salas. Aí fiquei meio perplexa, pensei "espera aí, isso nunca fiz na vida!". Não tenho qualquer pretensão em ser produtora..A Patrícia Vasconcelos será então produtora de um filme só?.Sim, nestas condições não voltarei a ser. Fizemos este filme apenas com o orçamento que contemplávamos para os exercícios de câmara, esticando-o para três semanas de rodagem, e com uma pequena ajuda da Câmara de Lisboa. Mas essencial foi a ajuda dos atores, os profissionais mas também os alunos, que deram o litro. Este filme só foi possível graças a tanto amor e generosidade de tanta gente..Mas gostou de ser produtora?.Não foi a primeira vez que me desafiaram... Devo dizer que tenho alma de produtora. Enfim, já produzi uma escola de atores e três galas da Academia de Cinema. Até poderia ter jeito para produzir cinema mas não tenho qualquer interesse. Adoro aquilo que faço! Tenho três profissões distintas: sou diretora de casting, diretora de uma escola e canto. Agora ainda vou fazer também um programa de tv, o Sei quem Ele É, que está na forja na RTP. Não tenho qualquer vontade de acrescentar mais nada..Sente que o filme vai ser um sucesso de bilheteira?.Não tenho qualquer expectativa! Se forem 10 espetadores já fico muito contente..Acima de tudo assume que é um cartão-de-visita para a sua ACT....Sim, claro que é um bom cartão-de-visita, sobretudo depois de há dois anos termos tido um fundador que foi embora e abriu uma escola paralela. Mas convém mesmo lembrar que é um filme não profissional, feito por profissionais e sem nenhum subsídio do Estado. O filme é um milagre, nunca aconteceu isto no cinema em Portugal..Os puristas do cinema português vão ficar assim um pouco com a sobrancelha levantada?.Se o filme correr bem, acho que sim. Nunca iremos repetir uma experiência deste género nestes moldes! Mas estou muito contente com o resultado dos atores alunos! E é isso aquilo que nos mais enche de orgulho. O propósito deste filme é lançar jovens atores... e não envergonha ninguém..O seu pai esteve na antestreia. Qual a opinião do realizador António-Pedro Vasconcelos?.Depois da antestreia, que correu muito bem e onde esteve o Primeiro-Ministro, nem consegui falar com o meu pai. Tem sido uma azáfama tal que nem sei o que ele pensa.