Depois do incêndio na Mouraria, imigração cava fosso entre PS e PSD

Carlos Moedas defende reposição de contingentes, Montenegro fala em "imigração regulada". PS acusa presidente da Câmara do Lisboa de sacudir a "água do capote".
Publicado a
Atualizado a

É um tema divisivo como poucos. Carlos Moedas lançou-o ontem para o debate político, defendendo a reposição de contingentes à imigração como forma de garantir condições de dignidade a quem chega. A resposta do PS não tardou: as autoridades têm sido "cautelosas" na emissão de vistos e o presidente da Câmara de Lisboa está a querer sacudir a "água do capote".

Em entrevista ao jornal Público e Rádio Renascença, tendo como pano de fundo o incêndio numa habitação sobrelotada no bairro da Mouraria no último sábado, que causou duas vítimas mortais, Carlos Moedas sustentou que "há um problema gravíssimo de sobrelotação" no eixo que vai da Praça do Chile ao Martim Moniz, que atribui às "políticas de imigração". Para o autarca lisboeta há que estabelecer contingentes para as atividades económicas de que o país precisa, e os imigrantes devem ter um contrato de trabalho para entrar no país. "Temos neste momento as pessoas a chegarem a Portugal sem promessa de trabalho. Aliás, há um novo visto, que não faz sentido nenhum, que é um visto para as pessoas chegarem e procurarem trabalho", criticou Moedas.

Para o PS o problema não está nas políticas de imigração, mas na ação - ou falta dela - de Carlos Moedas. "As responsabilidades no quadro da habitação em Lisboa são do presidente da Câmara. O presidente da Câmara de Lisboa tem de concentrar-se nas suas funções, nas suas atribuições", devolveu o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, sustentando que Moedas revelou "um profundo desconhecimento sobre o processo de emissão de vistos, em particular no que se refere a autorizações de residência". "Fala de contingentes quando os contingentes estiveram suspensos durante muitos anos, designadamente por decisão do Governo de que fez parte", apontou Brilhante Dias. Horas depois, foi a vez do líder do PSD vir defender também uma imigração "regulada". Os imigrantes "têm de vir para os países com dignidade e têm de vir para os países com contratos de trabalho", defendeu Luís Montenegro - "Naturalmente que uma imigração regulada pressupõe que as pessoas não venham para aqui passar tempo, venham para aqui trabalhar. A forma como isso se faz? Nós já experimentámos um período em que era obrigatório ter um contrato de trabalho para entrar no país". Mas isso não chega: os portugueses têm de ser "um bocadinho mais ousados, encaminhando as pessoas que nos procuram para atividades profissionais imediatas e, eventualmente, para ações de formação que possam cobrir as necessidades de mão de obra".

Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a entrar na contenda ("Acho que é prematuro estar a avançar com uma posição"), mas foi dizendo que não se deve dar uma resposta "ao lado" aos problemas da imigração. "É uma solução muito fácil o vir dizer: como não somos capazes de fazer funcionar os mecanismos de legalização e de controlo das condições de trabalho, o melhor é resolver o mal pela raiz, fecha-se. Como é evidente, esta é uma solução que é muito fácil", mas não se deve "dar uma resposta ao lado que não tem a ver com certos problemas", sublinhou o Presidente da República. Está na altura de abrir um debate sobre a imigração em Portugal? "Não, não. Eu acho que faz sentido é olhar para aquilo que é a situação que existe e ver se realmente existe ou não na economia - dizem-me que sim -, na economia portuguesa, além da posição doutrinária sobre a circulação das pessoas, necessidades de mão-de-obra".

susete.francisco@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt