A 109.ª edição da Volta a França vai para a estrada já na próxima sexta-feira. Com o tiro de partida a ser dado em solo dinamarquês - onde acontecem as três primeiras etapas. Rúben Guerreiro (EF Education-EasyPost) e Nélson Oliveira (Movistar Team) são os portugueses presentes no pelotão deste ano e, segundo o ex-ciclista Bradley Wiggins, não será de estranhar se, no final da prova, estiverem nos lugares cimeiros da classificação geral..Ao DN, Wiggins, que há 10 anos tornou-se no primeiro britânico a vencer a Volta à França, considerou que "ninguém espera que qualquer um deles possa vencer no final, mas andarão certamente para lá das margens do pelotão". O que quer isto dizer? Segundo o agora comentador da Eurosport, cadeia de televisão que vai transmitir o Tour, os portugueses "entrarão numa batalha muito positiva ali entre o quarto e o 10.º lugares da classificação geral"..Numa prova que se prevê dura ao longo de três semanas, Bradley Wiggins vê os ciclistas portugueses a serem "o tipo de corredores que podem tirar proveito a partir da altura em que as contas da geral estejam já mais definidas", sobretudo à entrada na última semana de prova, "seja através de uma fuga ou numa luta com concorrentes diretos para ganharem algum tempo". Por isso, vencer uma etapa não está, de todo, fora de questão: "Acho que ninguém descarta a possibilidade e não me espantaria se algum deles vencesse pelo menos uma etapa, essa possibilidade está em cima da mesa.".Com João Almeida a dar nas vistas nos últimos tempos, sobretudo na Volta a Itália, onde terminou nos dez melhores nos últimos dois anos, Rúben Guerreiro e Nélson Oliveira enfrentam, em 2022, "um ano de tudo ou nada. É realmente importante que se afirmem e marquem uma posição forte"..A tarefa mais difícil para Wiggins é mesmo escolher um ciclista que possa surpreender no Tour. "Podia apontar o Ben O"Connor (AG2R Citröen Team) ou, por exemplo, o Dan Martin (INEOS Grenadiers), mas acho que quem pode mesmo fazer uma gracinha é o Geraint Thomas (INEOS Grenadiers), que venceu o Tour em 2018 e triunfou na Volta à Suíça há dias. "Tem 36 anos e vai voltar a liderar a fila da INEOS depois de nos últimos anos ter sido Richard Carapaz, campeão olímpico, e Egan Bernal, que também venceu a Volta à França", diz. Como tal, Wiggins considera que Thomas "está numa posição privilegiada, em que pode não se tornar dependente dos outros corredores da equipa e, assim, pode atacar a classificação geral"..A uma semana do arranque da Volta à França, escolher favoritos parece ser mais fácil. "Pogacar e Roglic partem claramente em vantagem tendo em conta aquilo que fizeram nos últimos anos", considera Bradley Wiggins. No entanto, para o antigo campeão olímpico de contrarrelógio individual, o favoritismo pode ser posto em causa pelo dinamarquês Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma). "Tem tudo para ser o próximo grande ciclista dinamarquês. É jovem, foi pai há pouco tempo - e isso influencia muito - e vai andar lá em cima a baralhar as contas, certamente, mas estando na mesma equipa de Roglic, pode não se destacar tanto", atirou..Além disso, avisou Wiggins, "vai ser uma primeira semana dura, com um contrarrelógio com alguma distância, uma etapa que passa numa estrada com paralelos logo na quinta etapa", antes de seguir para a alta montanha, que chegará "logo a seguir ao segundo dia de descanso e pode logo marcar algumas diferenças que as equipas podem não conseguir esconder"..Quem já se sabe que não vai estar presente nesta edição da Volta à França é o britânico Mark Cavendish (QuickStep Alpha Vinyl Team), vencedor da camisola verde (símbolo do líder por pontos) na última edição da prova. "O Cavendish é o detentor da camisola verde, ganhou várias etapas no ano passado. Não se percebe a ausência dele na equipa QuickStep. Podia ser útil até para poder ajudar a equipa e baralhar um pouco as contas nos pontos e defender os colegas na geral", defende..Por outro lado, o regresso do ex-colega de equipa Chris Froome - com quem Wiggins se cruzou na Sky (atual INEOS), onde obteve os maiores sucessos - é bem visto. "Está um ciclista diferente. Nos últimos anos teve algumas lesões que o colocaram num patamar mais baixo do que aquele em que estava. Também está numa nova equipa e isso pode ajudá-lo a relançar a carreira, mas não devemos contar com uma vitória dele", considerou..Será dois dias antes do final do Tour de França - que está agendado para dia 24 de julho - que se celebram os dez anos desde a vitória de Bradley Wiggins na Volta a França.."Celebrar não é algo em que pense. Coincide que a última sexta-feira de prova seja o dia em que se celebram dez anos, mas não há planos para comemorações", revelou Bradley Wiggins, explicando que, para si, "a maior conquista nesse ano foi em Londres". "Foi quando conquistei o ouro olímpico no contrarrelógio. Ganhar o Tour foi bom, mas o sentimento em agosto, nos Jogos, foi ainda melhor", recordou..rui.godinho@dn.pt