Beleza e afetos de Lisboa atraem 46% dos estudantes estrangeiros

Câmara abre espaço para apoiar alunos internacionais, sobretudo os ligados a programas de mobilidade, 90,7% dos quais em Erasmus
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Simone Gognetta, um aluno de Erasmus de Milão, chegou a Lisboa em agosto e só agora conseguiu quarto. Sentiu na pele os efeitos do crescente interesse dos estrangeiros pela capital portuguesa, entre eles milhares de jovens do ensino superior. Tem aumentado nos últimos o número de estudantes internacionais, em contraciclo com o que acontece com os nacionais, que diminuíram. A Área Metropolitana de Lisboa é a que mais tem lucrado com essa preferência - 46% destes universitários -, 41% só na capital.

"Os senhorios dizem que neste ano tem sido muito mais fácil alugar as casas do que nos outros. E para nós estudantes está a ser muito difícil encontrar um quarto." Conta Simone num vocabulário português reduzido, mas que dá para entender que foi uma das condições para entrar na faculdade de Direto, em Lisboa. A procura durante mais de um mês acabou por dar resultados. Conseguiu uma suite num andar da Graça, com mais dez estudantes, por 300 euros, incluindo despesas de eletricidade e água. "Muito bom, estou muito contente. Vi muitos quartos que não interessavam e os que interessavam eram muito caros."

Falamos de 15 581 estudantes internacionais na Área Metropolitana de Lisboa (AML), o que representa 11,6% do total, percentagem que sobe para 12,5% (13 819) quando nos concentramos só na capital. Dados trabalhados pelos técnicos da autarquia e que serão hoje apresentados. Cerca de um terço destes universitários encontram-se em programas de mobilidade, 90,7% destes no âmbito do Erasmus. E entre os que se estudam em Portugal só pelos próprios meios, há muitos a fazer mestrados e pós--graduações.

Os autarcas lisboetas agradecem a preferência, que, aliás, querem reforçar. É o objetivo do projeto Study in Lisbon, criado em 2014 pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) em parceria com empresas e universidades. "Pretendemos aumentar a atratividade da cidade para os estudantes internacionais, desde logo os que vêm através do programa Erasmus. Nunca saberemos se, através destes estudantes, não teremos novos lisboetas", explica Duarte Cordeiro, vice-presidente da CML. Entre as formas de atração, a autarquia desenvolveu um programa de boas-vindas que passou de um dia a uma semana. Passeios, seja a pé, de bicicleta ou de barco, e aulas de surf e de gastronomia são algumas atividades previstas entre os dias 10 e 14. E está prevista a abertura, neste ano letivo, em colaboração com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, de um espaço para apoiar os estudantes estrangeiros em Entrecampos.

Mone, como é chamado em Itália, e agora em Portugal, promete estar tento às iniciativas que a autarquia lhes preparou nesta cidade que diz amar desde o primeiro dia em que a visitou, há dois anos. O rio, os monumentos, a comida e a afetividade das pessoas são os seus principais encantos. "Lisboa é muito bonita, as pessoas são muito gentis. É a mais linda cidade da Europa." Diz quem já esteve em Londres, Berlim, Barcelona, Paris e Budapeste, além obviamente das terras italianas. Como melhor monumento, elege o Cristo Rei, e uma das razões para a escolha é por ter a melhor vista da cidade. "Fui lá duas vezes, consegue-se ver Lisboa inteira, de todos os lados." E, também, não consegue resistir ao pastel de nata.

Apesar disso, Lisboa não foi a sua primeira escolha, "queria conhecer outros sítios", justifica. A primeira foi Las Palmas, mas tinha de aprender bem castelhano. Em Portugal, bastou um curso de iniciação, já que algumas das aulas da faculdade de Direito são em inglês. E é uma das que lhe dão mais equivalências em Itália. Mas já foi avisado pelos colegas de Erasmus: "Nas escolas portuguesas não dão 19 e 20."

Maioria em Ciências Sociais

Mone tem 25 anos e está no 5.º ano de Direito, o último de formação no seu país. A área das Ciências Sociais, Comércio e Direito representa a maioria dos estudantes estrangeiros (53%), mais 10% das preferências do que entre os estudantes nacionais. As Engenharias têm a mesma expressão do que as Artes e as Humanidades, 14%, quando está em segundo lugar nas preferências dos estudantes em geral, para os quais a Saúde surge em terceiro lugar (12%). Se destacarmos os alunos que se encontram em programas de mobilidade internacional, as Ciências Sociais, o Comércio e o Direito e as Artes e Humanidades destacam-se, dados do ano 2014-2015.

O estudante italiano irá fazer o primeiro semestre em Lisboa do último ano do curso. Pretende conseguir a aprovação a cinco disciplinas, estudos que acredita conciliar com as festas e toda a animação que existe em Lisboa, outros dos argumentos que o ligam à capital portuguesa. Até porque, confessa, são características que mais se assemelham com a sua forma de ser, ele que vem do Norte, onde diz que as pessoas são mais frias. "Lisboa é uma cidade pequena com uma grande oferta cultural e que tem tudo mais concentrado. É boa para relaxar, também é divertida. Vivo no Norte, mas os meus avós são do Sul, da Calábria, sinto muitas semelhanças com os portugueses."

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