'Marketing' e respeito
1. A oferta de um automóvel todos os dias, durante a novela O Beijo do Escorpião, é um sinal dos tempos (vale tudo, mas mesmo tudo para agarrar as audiências), mas foi uma muitíssimo bem pensada iniciativa da TVI para segurar os espectadores. Numa altura em que a vida não é fácil para quem não tem os jogos do Mundial, a estação apostou todas as fichas na sua novela mais forte. E colheu frutos: primeiro, porque manteve a novela à mesma hora, fidelizando clientela; depois, porque a oferta de um automóvel por dia, durante uma semana, inserida na narrativa da novela, foi um excelente exercício de integração e interação entre realidade e ficção. E com resultados: mesmo com a RTP1 a exibir um jogo em horário nobre, a novela protagonizada por Sara Matos, depois de uns dias abaixo do milhão de espectadores, voltou ao comportamento habitual, 11 ou 12 pontos de audiência média.
2. Sou amigo de Daniel Oliveira e tenho um grande respeito pelo seu trabalho. Mas também sou amigo de alguns dos jornalistas que se manifestaram, há dias, no Brasil contra as condições de trabalho que lhes são permitidas pela Federação Portuguesa de Futebol no acesso aos jogadores da seleção. Percebo a indignação dos profissionais que lá estão e acompanho as suas reivindicações, mas já não percebo (e francamente acho um argumento absurdamente infantil) essa coisa de apontar o dedo a um "não jornalista", como se a carteira profissional que temos no bolso fosse uma certidão suprema de qualidade e respeito pelos valores do jornalismo. Em 25 anos de redações, dez dos quais a andar pelos relvados, estágios, treinos e conferências de imprensa, asseguro-vos que já vi muito "não jornalista" mais escrupuloso do que companheiros encartados...