'A380' assusta nos céus e em terra
Imagine que está dentro de casa e, de repente, um pedaço de metal entra pela parede e cai a cinco metros de si. Foi o que aconteceu a Yanes Tri, uma mulher indonésia de 55 anos, que vive na ilha de Batam. O pedaço de metal pertencia a um Airbus A380 da companhia australiana Qantas que caiu após uma aparente explosão num motor em pleno voo QF32, entre Singapura e Sydney. O avião deu meia volta e aterrou de emergência no aeroporto de Changi. Não houve feridos.
O gigante da Airbus, que tinha iniciado a viagem em Londres, seguia com 433 passageiros a bordo, além dos 26 membros da tripulação. Segundo as testemunhas, ouviu-se uma grande explosão a bordo e os passageiros que estavam do lado esquerdo do aparelho chegaram a ver chamas do motor, que ficou sem revestimento. Um dos detritos terá também atingido a asa, mas o piloto desligou o motor e o aparelho aterrou de emergência sem mais problemas - depois de quase duas horas às voltas para queimar combustível.
"Foi uma experiência angustiante e sinto-me um bocadinho abalado", contou o passageiro Lars Sandberg, de Glasgow, à BBC. "Olhei pela janela e vi chamas", disse à AFP o alemão Ulf Waschbusch, indicando ter ouvido uma explosão. Esta também foi ouvida em terra, tendo os pedaços do revestimento caído numa área residencial. Por sorte ninguém foi atingido.
"O comandante admitiu que havia um problema, mas manteve-nos informados, quase minuto a minuto, de que estavam a tratar da situação e que tudo estava bem", acrescentou Sandberg, reconhecendo que todos mantiveram a calma. "Peço desculpa. Tenho certeza que já sabem que temos um problema técnico com o nosso motor número dois", disse o piloto aos passageiros, segundo um vídeo divulgado pela CNN. Depois, explicou que o avião ia regressar a Singapura.
O A380, que pode transportar até 853 passageiros e fez a sua estreia comercial em 2007, tem quatro motores e é capaz de voar apenas com dois deles. Mede 73 metros de comprimento, 24,1 de altura e tem quase 80 metros de envergadura. Vazio, pesa 308 toneladas e pode descolar com até 540 toneladas de peso. Actualmente, 38 exemplares do aparelho de dois andares estão ao serviço de cinco companhias aéreas, tendo transportado 6,5 milhões de passageiros. O avião da Qantas foi entregue em Setembro de 2008 e já tem 8165 horas de voo.
As autoridades estão a investigar as causas do acidente, o primeiro de grandes dimensões com o A380. O gigante teve apenas outros dois sustos: em Setembro de 2009, houve uma falha de motor num voo da Singapore Airlines oriundo de Paris; e em Março, dois pneus de um avião da Qantas rebentaram ao aterrar em Sydney.
"É uma falha de motor importante", disse o presidente executivo da Qantas, Alan Joyce, usando a mesma frase empregue pela Airbus. A companhia australiana não tem registo de acidentes mortais e, como precaução, deu ordens para que todos os seus A380 ficassem em terra. A Singapore Airlines tomou a mesma decisão.
As primeiras hipóteses para o acidente de ontem apontam para uma falha do motor, que no caso da Qantas é fabricado pela empresa britânica Rolls-Royce. Esta já recomendou que todos sejam avaliados. "A frota de motores Trent 900 actualmente em funções é pequena e relativamente recente e o grupo pensa ser prudente proceder, por precaução, a uma série de exames básicos", indicou a empresa em comunicado.
O motor Trent 900 é usado também pela Singapore Airlines e pela Lufthansa. Os aparelhos da Emirates e a Air France, as outras duas companhias que têm A380, estão equipados com um motor da Engine Alliance. O acidente de ontem provocou uma queda nas acções da EADS, a companhia que detém a Airbus assim como da Rolls-Royce. Contudo, o susto com o QF32 não impediu que a Airbus assinasse um contrato de 14 milhões de dólares com a China, para o fabrico de 104 aparelhos A320, A330 e A350. O anúncio foi feito durante a visita do Presidente chinês, Hu Jintao, a Paris.
Veja aqui o vídeo filmado por um passageiro do avião:
[youtube:UJN8Paj8I4g]