Entrou ontem no congresso do PSD, em Pombal, em ambiente que era tudo menos de festa. No fim, foi aplaudido de pé, depois de ter deixado uma mão-cheia de recados a Marques Mendes, Filipe Menezes e um pedido de desculpas ao parti- do que liderou desde Julho e que perdeu nas legislativas de dia 20 de Fevereiro "Desculpem se não consegui mais! Gosto muito de todos vocês..." Mas se há quem pense que esta é a despedida de Santa- na do partido, engana-se. "Não me despeço. Não vou estar por aqui, mas vou andar por aí." "Aqui" era o palco. "Aí" a plateia de delega-dos à sua frente. Ou, de forma mais dramática: "Não me mataram, feriram-me, mas não me mataram.".Com o proverbial atraso dos congressos, Santana Lopes fez uma espécie de "relatório de contas e de actividades" dos seus sete meses à frente do partido e do Governo. Com remoques a todos quantos, dentro e fora do partido, "não ajudaram" ou criticaram o PSD durante a campanha que deu a vitória ao PS. Alvos preferenciais Cavaco Silva, Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes... .Embora Santana Lopes tenha assumido, pessoalmente, as suas responsabilidades, dizendo que ele era o "homem do leme" quando "o barco" [o PSD] foi "atingido pela tempestade", não poupou Cavaco, que recusou dar a cara num cartaz de campanha eleitoral. Ou "por ter dito, embora depois tenha si- do desmentido", durante a campanha, que apostava numa maioria absoluta do PS, lembrou o líder demissionário. "Que diferente po- deria ser o nosso resultado se Mário Soares tivesse dito que apos- tava numa maioria do PSD..." Além de Cavaco, referiu ainda Pacheco Pereira, que o criticava no programa AQuadratura do Círculo. .No "relatório de contas" que apresentou aos delegados em tom de alguma mágoa, o ex-primeiro- -ministro falou das razões da queda do Governo de coligação PSD/CDS e co-responsabilizou a sua Comissão Política Nacional pela estratégia seguida desde o congresso de Barcelos. Santana deu também a resposta às críticas ao seu Governo, após a saída de cena de Durão Barroso, agora presidente da Comissão Europeia, como a perda da pasta das Finanças para o CDS, a saída de Manuela Ferreira Leite... Porque, lembrou, o próprio Durão acompanhou o processo de transição de Governo a saída de Ferreira Leite já estava prevista na remodelação que estava em preparação, e que o PSD achava importante ter as pastas da Segurança Social, Economia e Justiça, esta última entregue até então ao CDS. .E se alguém se enganou quanto às suas "capacidades", "qualidades e defeitos", esse foi Durão Barroso, que já "conhecia há mais de 20 anos"..Para Pedro Santana Lopes, além dos erros do Executivo, explicou o voto de penalização do PSD a 20 de Fevereiro com as "medidas económicas" que o seu Executivo tomou para resolver a situação do País, "herdada dos governos do PS". Santana ainda considera que o PSD foi vítima de "uma armadilha", que resultou na antecipação das eleições pelo Presidente Jorge Sampaio. .Por fim, os recados internos. Santana, que confessa não conseguir distanciar-se do partido e da sua própria sucessão, pediu aos dois candidatos - Marques Mendes e Luís Filipe Menezes - que evitem criticar o passado recente "Porque o futuro não se constrói destruindo o passado." E de futuro, prometeu, falará ainda hoje, no segundo dia do congresso.