O dilema entre o fim do mundo e o fim do mês

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Para quem sabe que não sabe mais do que quase todos os cientistas e a quase totalidade dos laboratórios que utilizam o método científico e recorrem a informação fidedignas, as alterações climáticas não são uma questão de opinião mas uma realidade confirmada. E para quem se der ao trabalho de ler os relatórios escritos por quem estuda e que são publicados por organizações respeitadas e sujeitas a escrutínio internacional intenso, ficará certamente aflito com as consequências dramáticas que teremos de enfrentar se nada fizermos. De facto, os impactos já verificados ou previstos na segurança alimentar, na saúde, nas migrações forçadas, nos conflitos, nos ecossistemas ou na economia são suficientes graves para que países e regiões tão diferentes como a China ou a União Europeia desenharem e implementarem políticas  públicas que mudarão o nosso dia-a-dia de forma profunda.

Quando desenhamos políticas públicas que têm o potencial de provocarem alterações significativas nas nossas comunidades, temos que que nos lembrar que as decisões que tomamos afetam diretamente pessoas e organizações. E se isso é verdade para qualquer sociedade, mais verdade será numa democracia, onde o sistema se baseia na ideia que há uma legitimidade das decisões que são tomadas por quem foi eleito para representar os interesses de quem votou.

No caso das políticas públicas necessárias para darmos respostas às causas e consequências das alterações climáticas, e porque perdemos décadas em discussões inúteis sobre se a ciência era, de facto ciência, temos agora de fazer em poucos anos o que poderia ter sido feito progressivamente. O que significa que os impactos das nossas decisões são muito mais profundos e muito mais pesados.

Quem vai lendo estas linhas poderá lembra-se que, como disse um poeta escocês chamado Damian Barr, nós não estamos todos no mesmo barco, mas estamos todos na mesma tempestade, onde uns estão seguro e outros estão a tentar sobreviver nas ondas. Como é natural, as consequências das alterações climáticas são muito mais dramáticas para quem está a flutuar nas ondas. E os custos associados às políticas públicas necessárias para darmos respostas e soluções para os problemas que enfrentarmos também.

As políticas públicas têm que ser capazes de dar resposta aos problemas graves e urgentes que enfrentamos mas devem perceber que embora as causas da nossa angustia coletiva sejam iguais, a nossa capacidade de nos adaptar varia conforme as nossas circunstancias e deve ter em consideração que, na expressão que ouvi da Prof. Susana Peralta, se o fim do mundo vai afetar-nos a todos, o fim do mês preocupa mais uns que outros e são aqueles que devem estar no centro das nossas preocupações. 

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