Legislativas Senegal – Entre a vingança e o respeito ao Soba!

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As legislativas de ontem, já analisadas em “Senegal o novo rosto/sede do Panafricanismo 2.0”, espelham sobretudo uma tensão social transversal a toda a África, cuja origem está na alteração da demografia. A base da pirâmide está gorda até à faixa dos 35 anos e uma larga maioria tem formação superior nas universidades dos próprios países e não na terra/sistema de ensino do ex-colonizador. A ruptura está aqui e no caso específico do Senegal, a verve e um certo panache de Ousmane Sonko, adquirida através de detenções, denuncias provadas infundadas e condenação que o impediu de concorrer às Presidenciais deste ano, criou um “efeito Mandela” nos cerca de 60% de novos eleitores, netos e bisnetos dos combatentes-libertadores, com formação superior e/ou técnicos calejados. A partir da prisão, o “Mandela-Sonko” conseguiu fazer passar a mensagem-ruptura anti-França, através de Bassirou Diomaye Faye, actual Presidente, o qual libertou o mentor Sonko da prisão e dele fez o actual Primeiro-Ministro.

Esta dupla, que actualmente segura a “tocha panafricanista 2.0”, caso veja o PASTEF (Partido dos Patriotas do Senegal, inúmeras vezes ilegalizado e perseguido) alcançar a desejada maioria absoluta, significará que venceu a vingança, que a “juventude-anti-França” quer consolidar a ruptura, prosseguir na “caça-às-luvas” e destruir para voltar a erguer, nomeadamente a CEDEAO e o Franco CFA ao nível regional, mas também eliminar o Alto Conselho das Colectividades Territoriais (ACCT), ao nível da política interna, num país que sustenta a paz social e equilíbrios na interacção das dezenas de confrarias religiosas. O que alimenta esta harmonia é o dinheiro em cima da mesa, irmãmente dividido. Quando assim não é, o fitna, o conflito, vem ao de cima!

Ou seja, este “Panafricanismo 2.0” rejeita a tradição. Quem conhece África, sabe da vibrância e da importância das associações religiosas, culturais e desportivas, para muitos/as o único “brinquedo” disponível. Acabar com o ACCT é eliminar quem alimenta este tecido social já de si roto, é não compreender África!

A “muralha de aço” foi constituída de urgência pelos ex-presidentes Macky Sall, Abdoulaye Wade e o também ex-Edil de Dakar Khalifa Sall, colocando as pequenas divergências de parte, constituindo o Takku Wallu Sénégal, cuja tradução traduz o grito de alerta destes senadores ao dizerem “Determinação para levar ao limite o socorro/ajuda ao Senegal”, atomizado num “takku wallu”, na verdade um grito de desespero no feminino fula, no limbo da entreajuda e da dependência!

Caso esta frente de sobas consiga impedir que uma maioria parlamentar se junte ao governo e presidência panafricanista, significa que ainda há respeito pelos velhos em África e desconfiança por um PASTEF recitador do verbo “desmantelar”, sem nunca apresentar “um plano b do berbo ber”!

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