O Irmãos de Itália de Giorgia Meloni está no grupo parlamentar europeu ECR.
O Irmãos de Itália de Giorgia Meloni está no grupo parlamentar europeu ECR.Andreas SOLARO / AFP

Le Pen quer unir-se a Meloni e ter o segundo maior grupo do PE

Líder italiana está a ser “cortejada” por dois lados nas vésperas das eleições: Marine Le Pen quer dar força à extrema-direita e Ursula von der Leyen quer o seu apoio para a reeleição.
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A francesa Marine Le Pen sugeriu à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, a união de forças numa aliança entre os dois grupos da extrema-direita no Parlamento Europeu após as eleições da próxima semana. “É a hora de nos unirmos, seria muito útil”, disse a líder do Reagrupamento Nacional (RN) ao Corriere della Sera. “Se tivermos sucesso, poderemos ser o segundo grupo no Parlamento Europeu. Acho que não devemos perder uma oportunidade como esta”.

O convite da francesa surge pouco depois do RN ter dito que não se sentava mais ao lado da Alternativa para a Alemanha (AfD) no Parlamento Europeu. Le Pen faz parte do grupo de extrema-direita Identidade e Democracia (ID) - ao lado do Liga, de Matteo Salvini, um parceiro júnior na coligação governamental de Meloni - e, na quinta-feira, decidiram expulsar a AfD, após uma série de escândalos envolvendo Maximilian Krah, eurodeputado e cabeça-de-lista do partido alemão, que está a ser investigado por ligações suspeitas com a Rússia e a China.

Uma união entre o ID e o grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), onde estão outros partidos de extrema-direita, como o Irmãos de Itália, de Meloni, o espanhol Vox ou o polaco Lei e Justiça, poderia vir a mudar o equilíbrio de forças no Parlamento Europeu. 

As últimas sondagens apontam para que o ECR consiga 71 lugares e o ID 68, ou seja, um total de 139 entre 720 eurodeputados. Nestas contas há ainda a considerar dois partidos atualmente sem família política - a AfD, que deverá obter 17 lugares, e o Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, expulso do PPE e que estará a ponderar escolher um destes grupos, e os seus previstos 12 eurodeputados. 

De acordo com o site Europe Elects, o PPE deverá conseguir eleger 183 deputados e os Socialistas e Democratas 140, as atuais duas maiores forças do Parlamento Europeu. Mas, num cenário de união das extremas-direitas, estas passariam ser o segundo maior grupo, com mais de 160 eleitos. 

No papel estas contas parecem ser um cenário de sonho para a extrema-direita europeia, mas na prática ID e ERC estão divididos por algumas questões-chave. Mais notavelmente, o ID está cético quanto ao apoio contínuo da União Europeia à Ucrânia contra a Rússia, enquanto o ECR apoia Kiev na sua luta.

Numa entrevista dada no domingo à noite à RAI, Giorgia Meloni disse não ter quaisquer linhas vermelhas quando se tratava de potenciais alianças com outras forças políticas no próximo Parlamento Europeu. “O meu principal objetivo é construir uma maioria alternativa àquela que governou nos últimos anos. Uma maioria de centro-direita, por outras palavras, que enviará a esquerda para a oposição na Europa”.

Sobre os temas que dividem ERC e ID, dias antes, a italiana já tinha recordado que têm “alguns pontos em comum, por exemplo no combate à imigração ilegal”, uma “abordagem menos ideológica” à transição ambiental, bem como “a defesa da identidade cultural europeia”.

Ao mesmo tempo, Ursula von der Leyen, oriunda do PPE, já deu um sinal de que estará disposta a trabalhar com o ECR de Meloni, se tal for preciso para garantir um segundo mandato como presidente da Comissão Europeia. Mas não com o ID, considerado mais radical. Uma colaboração com o ECR “depende muito de como é a composição do Parlamento e de quem está em que grupo”, disse von der Leyen num debate de campanha no final de abril.

Num outro debate, na semana passada, a alemã voltou a ser questionada sobre este assunto, rejeitando acordos com “amigos de Putin”, sem nunca mencionar a extrema-direita ou os conservadores, mas sublinhando “trabalhar bem” com a primeira-ministra italiana no âmbito do Conselho Europeu, qualificando-a como “pró-europeia”, embora tenham “abordagens completamente diferentes” em matérias como os direitos LGBTQI.

Este piscar de olho de Ursula von der Leyen a Meloni pode acabar por lhe sair caro, já que muito provavelmente precisará do apoio do grupo Socialistas e Democratas para ser reeleita, e estes já mostraram claramente o seu desagrado à aproximação a Meloni e ao ERC. “Os valores e os direitos não podem ser divididos segundo alguns acordos políticos”, disse Nicolas Schmit, o spitzenkandidat dos socialistas, num debate. “Ou podemos lidar com a extrema-direita porque precisamos deles, ou dizemos claramente que não é possível um acordo porque eles não respeitam os direitos fundamentais pelos quais a nossa Comissão tem lutado”.

“Meloni encontra-se com duas mãos estendidas antes das eleições, uma de Le Pen, a outra de von der Leyen”, explicou ao The Guardian Nicolai von Ondarza, do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais. “Ela pode levar apenas uma”.

ana.meireles@dn.pt

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