Ex-presidente dos EUa, Barack Obama
Ex-presidente dos EUa, Barack ObamaEPA/CAROLINE BREHMAN

"Yes, she can", diz Obama em discurso muito aplaudido sobre Kamala Harris

"Precisamos de um presidente que realmente queira saber dos milhões de pessoas que se levantam todos os dias e fazem trabalho essencial", disse o ex-presidente dos EUA, apelando ao voto em Kamala Harris. "Ela é uma das pessoas mais qualificadas de sempre a candidatar-se à presidência", realçou Michelle Obama.
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O ex-presidente norte-americano Barack Obama pediu aos eleitores para se organizarem e votarem em Kamala Harris em novembro, adaptando o seu 'slogan' de campanha  "Yes, we can" ("Sim, nós podemos) para "Yes, she can" ("Sim, ela pode") durante a convenção democrata em Chicago.

"Kamala Harris não vai estar focada nos seus problemas, vai estar focada nos vossos", afirmou na terça-feira (esta madrugada em Lisboa) ex-presidente, no discurso mais esperado do segundo dia da convenção. 

"Precisamos de um presidente que realmente queira saber dos milhões de pessoas que se levantam todos os dias e fazem trabalho essencial", disse Barack Obama. "Que defenda os seus direitos a negociar melhores salários e condições de trabalho. Sim, ela pode", acrescentou.

Num discurso de cerca de meia hora, o ex-líder democrata homenageou Joe Biden, que foi seu vice-presidente durante oito anos antes de ser eleito chefe de Estado em 2020. 

"A História vai lembrar Joe Biden como um presidente excecional que defendeu a democracia do perigo iminente", afirmou Obama, destacando o altruísmo da desistência, "uma das coisas mais raras em política". 

O ex-presidente também criticou Donald Trump, afirmando que é "um milionário de 78 anos que não parou de se queixar dos seus problemas desde que desceu as escadas rolantes há nove anos". Obama referia-se à imagem que ficou associada ao momento em que Trump anunciou que se ia candidatar à presidência, depois de descer as escadas rolantes da Trump Tower em Nova Iorque, em 2015.

O ex-líder democrata lamentou ainda as "alcunhas infantis" que Trump dá aos oponentes, as teorias da conspiração que defende e "a estranha obsessão com o tamanho das multidões". 

Caracterizou o candidato republicano como alguém que só está interessado em cortar os impostos para si e para os amigos milionários e não quer saber se as mulheres perderam direitos sobre o seu sistema reprodutivo, porque tal não o afeta. 

"Donald Trump vê o poder como nada mais que um meio para chegar aos seus fins", continuou. E quando a multidão fez ouvir o seu desagrado com Trump, Obama urgiu: "não apupem, votem".

Do outro lado, disse, está uma dupla que pode levar os Estados Unidos a contar uma nova história, em vez de escolher a sequela de um filme que não foi bom da primeira vez. 

"A Kamala não nasceu no privilégio, teve de trabalhar pelo que alcançou", disse Obama, lembrando que a candidata defendeu crianças vítimas de abusos sexuais, lutou contra políticas bancárias abusadoras e trabalhou em nome de proprietários que perderam tudo na crise do 'sub-prime' de 2008. 

"Ela vai trabalhar em prol de todos os americanos", garantiu Barack Obama, que arrancou grandes ovações dos participantes na convenção. 

O ex-político dedicou uma parte do discurso a falar dos ideais que construíram os EUA e a necessidade de inspirar novamente os eleitores para que queiram defender a democracia. 

"O nosso trabalho é convencer as pessoas de que a democracia funciona", afirmou. "Não podemos apenas apontar para o que conquistámos, temos de desenhar um novo caminho para ir ao encontro dos desafios atuais". 

Obama notou ainda que "o resto do mundo está a assistir para ver se conseguimos fazer isto" e que nenhuma outra nação tentou construir uma democracia tão grande e diversa como esta. 

"Quando defendemos os nossos valores, o mundo torna-se um pouco mais brilhante", afirmou. Quando isso não acontece, os ditadores "sentem-se encorajados" e o mundo corre maiores perigos. 

Obama notou o grande entusiasmo em torno da campanha de Harris e disse que isso mostra que a maioria dos norte-americanos não quer viver num país "amargo e dividido". 

"Juntos, podemos construir um país mais justo, mais igual e mais livre", disse Obama. "Ao trabalho", instou. 

"A esperança está de volta", declara Michelle Obama

A ex-primeira dama, Michelle Obama, na convenção democrata, em Chicago
EPA/CAROLINE BREHMAN

Também a mulher de Barack Obama subiu ao palco para elogiar Kamala Harris num discurso mobilizador. Oito anos depois do célebre discurso em que disse "quando eles descem, nós subimos ainda mais", a ex-primeira dama Michelle Obama fez levantar a audiência da convenção democrata declarando que a esperança regressou com a nomeação de Kamala Harris. 

"América, a esperança está de volta", afirmou Michelle Obama, falando de "algo maravilhosamente mágico" que está a sentir-se no ar em todo o país. "É o poder contagioso da esperança", caracterizou, traçando um paralelo com a energia da campanha do marido, Barack Obama, que o levou a ser eleito em 2008. 

Mas tal como Hillary Clinton fez no seu discurso no primeiro dia da convenção em Chicago, também Obama alertou que o entusiasmo e as sondagens positivas não podem levar à complacência ou divisão. 

"Esta vai ser uma batalha difícil", avisou. "Só temos dois meses e meio para conseguir fazer isto. Não nos podemos dar ao luxo de ficar sentados à espera que nos chamem. Estou a dizer-vos a todos, façam alguma coisa". 

Esse momento originou cânticos entusiasmados de "do something" ("façam alguma coisa"), uma expressão que, disse Michelle Obama, a mãe de Kamala Harris lhe dizia: fazer alguma coisa em vez de apenas se queixar. 

"Kamala Harris está mais do que pronta para este momento", afirmou a ex-primeira dama. "Ela é uma das pessoas mais qualificadas de sempre a candidatar-se à presidência e uma das mais dignas", continuou. "É a encarnação das histórias que contamos sobre este país". 

Obama lembrou as origens de Harris, filha de emigrantes que estudou, trabalhou e subiu a pulso até chegar a vice-presidente. 

"Ninguém tem um monopólio sobre o que significa ser americano", apontou Obama. "Ela entende que a maioria de nós nunca terá o benefício de falhar para a frente. Nunca iremos beneficiar da ação afirmativa da riqueza geracional". 

Michelle Obama referia-se às críticas que o oponente republicano Donald Trump tem atirado contra Kamala Harris, clamando que ela só foi escolhida como parte de políticas DEI (diversidade, equidade e inclusão) e ação afirmativa por ser afro-indiana-americana. 

A ex-primeira dama avisou que os opositores vão "fazer de tudo para distorcer a verdade" e apontou que Donald Trump fez o máximo que pode durante anos para que as pessoas temessem os Obamas.

"A sua visão limitada do mundo fê-lo ter medo de duas pessoas bem-sucedidas que, por acaso, eram negras", afirmou. "É o mesmo golpe de sempre. Insistir nas ideias misóginas e racistas". 

Obama considerou que o país "merece muito melhor que isto" e será preciso casar a esperança com ação. 

"Vamos mais alto, sempre mais alto do que alguma vez fomos antes", disse, ao fechar o discurso, voltando ao que afirmou em 2016, na convenção que consagrou Hillary Clinton. 

A convenção nacional democrata decorre em Chicago até 22 de agosto, dia em que Kamala Harris aceitará oficialmente a nomeação como candidata presidencial.

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