Cimeira União Africana 2024 - Do cliché à Real Politik!

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África aterrou em peso em Addis Ababa, na Etiópia, a partir de 14 de fevereiro, para participar na 37.ª Cimeira da União Africana (UA), cuja inauguração aconteceu no passado sábado 17. Foram cerca de trinta os chefes-de-estado(s) e de governo(s) presentes e o programa de debates centrou-se “num continente abalado por golpes militares, mudanças anticonstitucionais e conflitos, migrações, mudanças climáticas e saúde”, num continente cuja malária, paludismo e outras doenças tropicais, atrasam o desenvolvimento destes países e respectivos povos.

José Manuel Durão Barroso, foi aliás figura de proa nesta Cimeira, convidado enquanto ex-Presidente (PR) da Comissão Europeia e cuja comunicação foi muito apreciada, nos clichés habituais destas ocasiões: “nós estamos conscientes de certos problemas financeiros do Mundo, nomeadamente em África, mas também pensamos que devemos continuar a dar prioridade ao sector dito social, da saúde e da educação. A UA definiu uma via e uma estratégia muito claras para tal e penso que é largamente partilhada pelos dirigentes africanos, devendo pois, dar prioridade a estes sectores.”

Ainda na saúde/vacinação, este “português do Mundo”, referiu a “injustiça em termos de repartição dos recursos para a vacinação no Mundo. Em dez anos a capacidade de produção de vacinas será ainda superior”! O meu horóscopo, por exemplo, disse que 2024 “será um ano difícil, mas pleno de desafios!”

Do cliché à Real Politik

Na disputa das “quotas regionais”, que decidem a rotatividade da presidência anual da UA, o norte de África tinha a primazia para assumir o cargo até fevereiro de 2025. Lá se entenderam e decidiram colocar “a tocha” na mão do PR da Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, substituindo o comoriano Azali Assoumani. Porquê?

Porque Ghazouani é considerado um homem de consensos e mestre na questão securitária. “Entalado” entre marroquinos e argelinos, no “tanque da disputa sahraoui”, dá-se bem com ambas as partes, prevendo-se que estabeleça aqui uma primeira ponte de diálogo entre ambas as partes. Outro “aperto regional” a considerar é a crescente crise na CEDEAO (a “CEE da África Ocidental”), da qual a Mauritânia não faz parte, mas faz fronteira com o Senegal, um dos motores da organização. Actualmente num impasse eleitoral devido ao adiamento das presidenciais senegalesas programadas para o próximo domingo e cuja não realização, farão o PR Macky Sall entrar na inconstitucionalidade a partir do início de abril. Uma solução possível para este cenário é o PR da Assembleia Nacional do Senegal, o farmacêutico Amadou Mame Diop, assumir a presidência interina do país, até à realização das Presidenciais e assim mitigar uma crescente ideia de “golpe constitucional” do PR Macky Sall, em crescendo nos protestos diários da oposição.

Por último, Ghazouani terá foco nos seus parceiros sahelianos, Mali, Burquina e Níger, suspensos no seio da UA após os militares terem tomado o poder, no sentido de negociar eleições que devolvam a política aos políticos nestes países, os quais permitam um debate sério quanto à segurança regional, que debata o reerguer de um G5-Sahel partido ao meio, ou a criação de um G16-Regional, que se expanda da linha do Sahel Ocidental, até ao Golfo da Guiné, acompanhando assim uma perceptivel deslocalização para sul, dos grupos jihadistas que tradicionalmente actuam mais a norte e que procuram vias de acesso ao mar, enquanto futuro ponto de entrada e fuga do Continente. Por último e perante este novo cargo, Ghazouani, já garantiu a África e ao Mundo, que em junho próximo se apresentará de novo a escrutínio público para a respectiva potencial reeleição. A importância da Mauritânia para Portugal está no prato, pela quantidade de peixe que consumimos desta origem, sem sabermos exactamente onde fica, sendo já ali!

www.maghreb-machrek.pt (em reparação). 

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