Vem aí mau tempo, mas "não faz sentido comparar com o que aconteceu em Valência"
A chuva forte e intensa que se faz sentir esta quinta-feira no sul de Portugal continental poderá vir a prolongar-se até sábado, dia 16.
Mas, ao DN, Nuno Lopes, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explica que "fazer analogias com o que aconteceu em Valência não faz sentido". "Há uma depressão clássica a influenciar o estado do tempo, mas tem características diferentes e é uma massa de ar diferente. Não se pode comparar, sequer, em termos de impactos" em relação ao fenómenos que se verificou em território espanhol.
"Valência foi Valência, foi um evento completamente excecional, numa zona onde costuma haver eventos excecionais, mas aquilo foi completamente fora da escala. Temos, em Portugal, uma situação que já ocorreu outras vezes, noutros anos". O que se espera é que "nos próximos dias" haja aguaceiros fortes que, segundo as previsões, podem ser "ocasionalmente" acompanhados de granizo e trovoada, sobretudo nas zonas mais a sul.
Nuno Lopes acrescenta ainda: "Às vezes, as pessoas não têm noção do que é uma precipitação forte, que pode ser em 5 ou 10 minutos, mas 5 ou 10 minutos de precipitação forte ou muito forte pode ser o suficiente para haver inundações, em áreas mais fragilizadas ou com fracos escoamentos, sobretudo em áreas urbanas, porque não há capacidade de escoamento das águas pluviais."
Durante a manhã desta quinta-feira, a chuva intensa que caiu no Algarve durante cerca de 20 minutos alagou estradas em Moncarapacho, no concelho de Olhão, e caves e lojas na baixa de Albufeira, segundo disse à Lusa fonte da Proteção Civil.
No resto do território nacional, nas zonas centro e mais a norte, Nuno Lopes diz não estar prevista uma "maior intensidade" dos aguaceiros. "Esperamo-los, mas não tão intensos como tem havido a sul. Mas no dia de amanhã [sexta-feira], na zona centro, poderá haver uma precipitação também um pouco mais intensa. Estamos a avaliar, entretanto, se há necessidade ou não de emitir avisos para essas zonas", remata o meteorologista.
Qual será o dia mais intenso? É possível prever ou não?
"É muito difícil dizer exatamente a quantidade de precipitação, localizações da precipitação ou períodos temporais. Os dias que esperamos que possam ser mais complicados são esta sexta-feira, dia 15, e sábado, 16. Estamos ainda a avaliar, mas temos avisos emitidos para até dia 16. Mas a emissão de avisos, particularmente para a zona sul, também é uma possibilidade."
Este é um fenómeno de gota fria [que originou as cheias em Espanha], como se previa?
"A origem já mudou, neste momento é uma depressão clássica, digamos assim, com expressão em todos os níveis. As depressões, às vezes, no inverno, têm o seu núcleo frio. É normal. As depressões, por vezes, devido ao seu posicionamento geram linhas de instabilidade, geram precipitação, que pode ser sob a forma de chuva ou de aguaceiro. Não há aqui uma correspondência exata ao fenómeno que aconteceu em Espanha. É uma depressão clássica, se quisermos."
Proteção Civil emitiu aviso à população. Dia com 53 ocorrências
Após o briefing diário entre o IPMA e as diferentes entidades, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) emitiu esta manhã um aviso à população.
Alertando para as previsões do IPMA, a ANEPC sublinhou que podem existir "inundações em zonas urbanas", bem como cheias ou a "instabilidade de vertentes".
Perante isto, a ANEPC "recorda que o eventual impacto destes efeitos pode ser minimizado", sobretudo ao adequar "comportamentos adequados", como "garantir a desobstrução dos sistemas de escoamento das águas pluviais e retirada de inertes e outros objetos que possam ser arrastados ou criem obstáculos ao livre escoamento das águas" ou "adotar uma condução defensiva", e ainda "garantir uma adequada fixação de estruturas soltas".
Pelas 18h15 desta quinta-feira, num balanço feito ao DN, fonte da Proteção Civil referiu que a maioria das ocorrências é no distrito de Faro. "Relacionadas com chuva, ou seja, inundações", há registo de 14 ocorrências. O número aumenta, no entanto, para 53 se se somarem as que têm "várias tipologias", como queda de árvores ou movimentação de inertes.