PS ainda mantém hegemonia nas localidades, mas Chega teve aumento expressivo nos votos.
PS ainda mantém hegemonia nas localidades, mas Chega teve aumento expressivo nos votos.

PS vence em metade dos 10 concelhos com maior população imigrante

A imigração foi um foco da campanha eleitoral, mas propaganda do Chega não foi suficiente para mudar a ideia dos eleitores em zonas com grande concentração de população imigrante. A exceção foi nos dois concelhos no sul do país.
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O discurso anti-imigração do Chega não surtiu efeito em todas as zonas do país, mostram as estatísticas oficiais. Nos 10 concelhos com maior população imigrante, o Partido Socialista (PS) venceu em cinco, seguido da Aliança Democrática (AD) em três. O partido de André Ventura conseguiu vencer em duas das 10 localidades com elevado número de imigrantes: Loulé e Albufeira, ambos no Distrito de Faro, no Algarve. O ranking  dos concelhos é baseado no último Relatório de Imigração e Asilo.

Os socialistas obtiveram a maioria do eleitorado em Sintra, Amadora, Loures, Odivelas e Almada, todos localizados na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Em Sintra, o segundo concelho do país em número de imigrantes, o 2.º  lugar ficou com a AD, seguido do Chega, que subiu mais de 27 mil votos, na comparação com 2022.

Na Amadora, o cenário foi igual ao último escrutínio eleitoral. Ao mesmo tempo, o partido de André Ventura conquistou cerca de 9 mil votos a mais. Em Loures, o PS continua com maioria da confiança dos eleitores, mas com diminuição de quase 10 mil votos. Por outro lado, o Chega alcançou mais de 14 mil votos, se comparado com o resultado das legislativas anteriores. No Concelho de Odivelas, o cenário foi bastante parecido: vitória do PS, seguido da AD, com o Chega na 3.ª posição. Este último foi quem mais ganhou votos, aproximadamente 10 mil.

Em sequência, a AD obteve mais votos em Lisboa, Cascais e no Porto. É na Capital onde o número de imigrantes é o maior do país, com mais de 118 mil residentes estrangeiros, de acordo com o relatório oficial. Em comparação com 2022, houve mudança no ranking. Além de  o PS perder para a AD o posto de mais votado, houve também mudança no terceiro partido mais votado em Lisboa.

A Iniciativa Liberal caiu para 5.º lugar, perdendo a posição para o Livre, em quarto e para o Chega, na terceira posição. O partido subiu de 16 956 votos para 38 407 votos no dia 10 de março. 

Em Cascais, o cenário foi semelhante ao de Lisboa. A terceira maior força política foi o Chega, posição ocupada em 2022 pela IL. A sigla mais que dobrou na preferência dos eleitores e cresceu de 8938 para 20 039 votos. O PS, vencedor em 2022, passou neste pleito para o segundo lugar. 

No Porto, a segunda maior cidade do país e o sexto em presença de imigrantes, o aumento da presença do Chega nas urnas também foi expressivo. Nas eleições anteriores, o total de votantes na sigla foi de 4326, o sexto partido mais votado. No último domingo, o partido subiu ao terceiro lugar, com 14 214 votos.

Ao sul do país, André Ventura conseguiu a vitória em Loulé e Albufeira, dois entre os dez concelhos com maior população estrangeira. 

Em Loulé, onde residem cerca de 20 mil imigrantes, o Chega teve 27,55% dos votos, o que traduz-se em 9664 votos. O número é quase três vezes maior do que em 2022, quando o partido obteve 3565 votos. 

Como resultado, passou de terceiro colocado como o primeiro no ranking, deixando para trás o PS e a AD.

O mesmo aconteceu em Albufeira, onde o Chega também foi vencedor, com 32,61% da preferência dos eleitores (6774 votos). Em 2022, a sigla alcançou 2585 votos, fatia que representou 15,21%. O concelho abriga aproximadamente 17 mil cidadãos estrangeiros. 

Quem vota?

Pelos direitos de voto previstos na lei, a maior parte dos eleitores são cidadãos nacionais ou com cidadania dupla, ambos maioria se comparado com o número de imigrantes com direitos políticos. 

No que diz respeito aos estrangeiros com Autorização de Residência (AR), podem votar apenas os cidadãos brasileiros, ao abrigo do Tratado de Porto Seguro, e que tenham feito o recenseamento. Segundo dados do Ministério da Administração Interna (MAI) obtidos pelo DN, o número é baixo: não chega a 500 eleitores. 

Em Arroios, mudanças nos mais votados

A Freguesia de Arroios foi uma das mais citadas quando o tema da campanha foi imigração. A famosa Rua do Benformoso, conhecida por ter restaurantes, lojas e talhos de origem estrangeira, esteve no centro da discussão sobre a presença de imigrantes em Lisboa.

Cerca de um mês antes das eleições, havia a intenção de se realizar uma marcha no local, promovida pelo grupo nacionalista 1143, mas mudou de sítio devido ao nível de risco. O debate sobre o assunto não resultou numa vitória do Chega, mas foi suficiente para uma subida nos votos: 1483 a mais. Em 2022 o partido obteve 790 votos. O que antes era a sétima força política, agora é a quarta, atrás da AD, PS e LIVRE. Este último cresceu a votação na freguesia, com cerca de 700 votantes a mais do que o resultado de 2021. Na mesma localidade, a AD foi a grande vencedora, posto anteriormente ocupado pelo PS, que passou ao segundo lugar.

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O concelho localizado no Baixo Alentejo também é sempre lembrado quando o assunto é imigração, especialmente por conta das estufas agrícolas e a grande presença de trabalhadores do sudoeste asiático.

O crescimento do Chega foi expressivo, que subiu de quarto mais partido mais votado para o segundo, atrás apenas do PS. Foram 1886 votos a mais do que em 2022. O mesmo foi registado no Distrito de Beja, onde o Chega ultrapassou o Partido Comunista Português (PCP) no número de votos. O Chega obteve 16 595 votos, cerca de 10 mil a mais do que nas legislativas anteriores. Como resultado, o partido conseguiu eleger um deputado ao Parlamento, enquanto o PCP não conseguiu eleger ninguém no distrito. Ao mesmo tempo, a hegemonia na região continua a ser do PS, que venceu em 2022 e novamente neste ano, apesar de ter recebido cerca de 5 mil votos a menos.

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