NATO assume que a Ucrânia está no “caminho irreversível” para a adesão
Os 32 países da NATO acordaram esta quarta-feira colocar na declaração final da cimeira de Washington que a Ucrânia está num “caminho irreversível” para a adesão à Aliança, segundo avançaram várias fontes diplomáticas. Neste sentido, o documento que será conhecido hoje, o último dia da reunião, apoiará a Ucrânia no “seu caminho irreversível para a plena integração euro-atlântica, incluindo a adesão à NATO”, mas também repetirá a redação anterior de que Kiev receberá um convite formal para aderir “quando os aliados concordarem e as condições forem atendidas”.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem pressionado para que a adesão à NATO se torne uma realidade, enquanto os Estados Unidos e a Alemanha têm liderado a oposição à adesão imediata, acreditando que isso colocaria efetivamente toda a Aliança em guerra contra a Rússia.
Alexander Stubb, o presidente da Finlândia - que, tal como a Suécia, aderiu à NATO após a invasão da Ucrânia pela Rússia - disse estar “muito feliz” com a linguagem da declaração final. “Penso que é muito importante transmitir daqui uma mensagem ao Kremlin de que o caminho e a ponte da Ucrânia para a adesão à NATO são agora irreversíveis”, afirmou. Na opinião de Stubb, Vladimir Putin só entende “poder” e, desta forma, assistirá à derrota de um dos seus objetivos da invasão - o presidente russo pretendia impedir a expansão da NATO, mas em vez disso “a Ucrânia tornar-se-á membro da NATO” e “a Finlândia e a Suécia também se tornaram membros”.
Mais incisivo, o presidente da Polónia, Andrzej Duda, referiu que esta cimeira “provavelmente não enviará este convite” para a Ucrânia aderir à NATO, mas espera “que isso se torne um facto na próxima”.
Um relatório apresentado em maio pelo Grupo de Trabalho Internacional sobre a Segurança da Ucrânia e a Integração Euro-Atlântica - liderado pelo ex-secretário-geral da NATO Anders Fogh Rasmussen e pelo chefe de gabinete da presidência ucraniana, Andriy Yermak - referia três pontos específicos para ajudar Kiev: levantar todas as restrições ao fornecimento de armas, instalar sistemas de defesa antimísseis da NATO ao longo da fronteira oriental e convidar a Ucrânia para a Aliança na cimeira em Washington. “Não creio que devamos aceitar o argumento de que não podemos convidar a Ucrânia enquanto a guerra estiver em curso. Se aceitarmos este argumento, daremos de facto a Putin um incentivo para continuar a guerra”, enfatizou Rasmussen na apresentação do documento.
No entanto, e apesar do avanço que será dado na declaração final, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, defendeu esta quinta-feira a adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica em caso de cessar-fogo no atual conflito, para evitar futuras agressões da Rússia. “Se houver agora um novo cessar-fogo, um novo acordo, temos que estar 100% seguros de que [a Rússia] se detém ali, independentemente de onde estiver essa linha”, indicou Stoltenberg no Fórum Público paralelo à Cimeira da NATO. “Por isso, acredito firmemente que, quando os combates cessarem, temos que garantir que a Ucrânia tenha as capacidades para dissuadir futuras agressões da Rússia e mecanismos de segurança”, acrescentou o norueguês.
Para Stoltenberg, “é claro que a melhor garantia de segurança seria o artigo 5” do Tratado do Atlântico Norte sobre a defesa coletiva, a pedra angular em que se baseia a Aliança. “Acho que a maneira de garantir que [a Rússia] se detém é a adesão NATO”, reiterou, sublinhando que “temos que garantir que [um cessar-fogo] realmente é o fim [do conflito] porque assistimos a um padrão de agressão” de Moscovo contra seu vizinho desde a anexação da Crimeia em 2014.
F-16 a caminho
Os Estados-membros da NATO anunciaram também esta quarta-feira que iniciaram a prometida transferência de aviões F-16 para a Ucrânia, sendo que na terça-feira à noite o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já se havia comprometido com o envio de um novo sistema de defesa aérea para Kiev, ao mesmo tempo que apelou à união contra Vladimir Putin. “Que não haja dúvidas. A Ucrânia pode - e irá - deter Putin”, declarou Biden.
A Casa Branca anunciou que Dinamarca e Países Baixos já começaram a enviar F-16 para a Ucrânia, com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, a explicar que a transferência dos F-16 “concentra a mente de Vladimir Putin no facto de que ele não sobreviverá à Ucrânia, não nos sobreviverá e, se persistir, os danos que continuarão a ser causados à Rússia e aos seus interesses só se irão aprofundar”. “A maneira mais rápida de chegar à paz é através de uma Ucrânia forte”, concluiu Blinken.
Já o primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Store, anunciou que o país vai entregar seis F-16 à Ucrânia mais para o final do ano e continuar a a apoiar a formação de pilotos de caça ucranianos que começou no outono na base aérea de Skrydstrup, na Dinamarca. A Bélgica também se comprometeu a enviar alguns dos seus F-16. “Os F-16 aproximam a paz justa e duradoura, demonstrando que o terrorismo deve falhar em todo o lado e a qualquer momento”, agradeceu Zelensky, que manteve ao longo do dia reuniões bilaterais com vários líderes, como o chanceler alemão Olaf Scholz ou os primeiros-ministros dos Países Baixos (Dick Schoof) e do Reino Unido (Keir Starmer). Para hoje está previsto um encontro entre Zelensky e Joe Biden.
A partir de Moscovo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo comentou a transferência de F-16 para a Ucrânia dizendo que esta é uma “prova de que Washington está a liderar um gangue de guerra”, de acordo com a agência Tass.
Mais fortes do que nunca
No início da reunião dos chefes de Estado e de governo da NATO, ao final da tarde, Jens Stoltenberg vaticinou que os 32 líderes “tomarão decisões para a nossa segurança futura”, referindo que irão aumentar o apoio a Kiev “através do estabelecimento de uma coordenação da NATO e de assistência e formação em segurança para a Ucrânia” e “garantindo um apoio sustentado a longo prazo”.
“O apoio à Ucrânia não é caridade. É do nosso próprio interesse de segurança”, sublinhou o secretário-geral da NATO, acrescentando que a Aliança também reforçará as parcerias no Indo-Pacífico “para pressionar contra o alinhamento crescente da Rússia, China, Irão e Coreia do Norte”.
Joe Biden, o anfitrião da cimeira, declarou que “hoje estamos mais fortes do que nunca”, mas alertou que os aliados devem apostar no “fortalecimento da nossa base industrial” para não serem ultrapassados. “Cada membro da NATO está empenhado em fazer a sua parte para manter a Aliança forte. Podemos e iremos defender cada centímetro do território da NATO, e faremos isso juntos”, garantiu o presidente dos Estados Unidos.
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