A TAP considera que a componente fixa nos salários dos seus trabalhadores continua “muito alta”, o que pode vir a ter “um impacto negativo na sustentabilidade financeira” da empresa em caso de alguma “disrupção importante” no futuro, semelhante à pandemia de covid-19. Esta preocupação acerca da estrutura salarial da companhia surge num prospeto da empresa dirigido a investidores e bancos de investimento no âmbito de venda de obrigações, com data de 30 de outubro, e ao qual o DN teve acesso..Na habitual secção dedicada aos riscos da atividade, a TAP recorda aos investidores que a maioria dos seus trabalhadores são representados pelos sindicatos do setor. “Apesar de termos concluído com sucesso acordos de contratação coletiva em 2023 e 2024, que vigoram até 2025 e 2026, continuamos sujeitos ao risco de conflitos e disputas com os nossos trabalhadores e sindicatos, a instabilidade laboral, greves e outros problemas relacionados com os trabalhadores”, indica a companhia no prospeto..O objetivo dessas negociações coletivas, salienta a TAP, era o de “substituir os acordos de emergência adotados ao abrigo do Plano de Reestruturação [que foi posto em prática em troca de 3,2 mil milhões de euros em ajudas do Estado], nos quais os salários foram reduzidos como forma de sustentar a sobrevivência da companhia”..Devido a esses acordos (em vigor até 2025 e 2026), reforça a TAP, a companhia diz ter conseguido aumentar a proporção variável nas compensações. “No entanto, as remunerações fixas mantêm-se muito altas, o que pode ter um impacto negativo na nossa sustentabilidade financeira caso [ocorra] no futuro uma disrupção importante, como a pandemia de covid-19, que resulte numa redução substancial das nossas receitas.”.O peso dos salários, remunerações pagas ao dia ou à semana, bem como outros bene- fícios, no total dos custos operacionais também tem vindo a subir, reporta a TAP, tendo passado de 13% (dos custos operacionais) no final de 2021, para 18,7% no final de 2023 e para os 20,5% nos primeiros seis meses deste ano..Por outro lado, a TAP admite perante os investidores que “os termos e condições dos futuros acordos coletivos poderão ser mais custosos à companhia”, devido ao “aumento de ameaças de greve e negociações vinculativas” entre os sindicatos e a empresa..É perante este cenário – em que a estrutura salarial já é desafiante e pode piorar devido a novos acordos coletivos mais custosos para a empresa – que a TAP adverte os investidores para outro risco: captar e reter os trabalhadores de que precisa para operar, sobretudo pilotos..“Poderemos não conseguir reter e/ou contratar pessoal especializado, como pilotos e pessoal de bordo qualificado, o que poderá afetar-nos de forma adversa”, indica a TAP no prospeto..“De tempos em tempos, a indústria da aviação comercial tem passado por faltas de pessoal especializado, sobretudo pilotos”, diz a companhia, apontando uma consequência disso mesmo. “Podemos vir a ter de aumentar remunerações e benefícios para atrair pessoal qualificado ou arriscamo-nos a ter uma alta rotação dos empregados. A nossa inabilidade para atrair e reter pessoal para estas posições [pilotos e tripulações de cabina] pode imputar negativamente o nosso negócio, a nossa condição financeira e os resultados das nossas operações.”.Em 2021, a TAP cortou 1480 trabalhadores (incluído pilotos e tripulantes de cabina) no âmbito do plano de reestruturação aprovado pela Comissão Europeia em troca das Ajudas do Estado. No final do ano seguinte, 2022, a transportadora aérea dava emprego a 6988 trabalhadores, mais 362 face a 2021. Em 2023, a TAP contratou mais 525 trabalhadores, fechando o ano passado com 7837, indica o último Relatório e Contas anual disponível.