Análise ao sangue pode vir a diagnosticar Alzheimer
Estima-se que em Portugal devem existir cerca de 90 mil pessoas com doença de Alzheimer. / Henriques da Cunha/Global Imagens

Análise ao sangue pode vir a diagnosticar Alzheimer

Investigadores da universidade de Gotemburgo desenvolveram uma análise que pode revolucionar o diagnóstico precoce da doença, mesmo em pessoas que não tenham sintomas.
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Um estudo científico liderado pelo investigador Nicholas Ashton, especialista em Psiquiatria e Neuroquímica da universidade de Gotemburgo, na Suécia, conclui que uma simples análise ao sangue pode ser o caminho para diagnosticar, de forma precoce, a doença de Alzheimer. O estudo incluiu 786 participantes, uns com sinais de demência, outros sem qualquer sintoma. Estas pessoas foram submetidas a exames cerebrais, punções lombares e recolha de sangue. A análise ao sangue serve para medir os níveis de uma proteína denominada p-tau217, um marcador de alterações biológicas que acontecem ao nível do cérebro quando a doença de Alzheimer está em desenvolvimento. Assim sendo, é possível prever, através desta análise, se uma pessoa poderá vir a ter a doença, mesmo antes de se desenvolverem sintomas. 


“O que impressiona nestes resultados é o facto de a análise ao sangue ter tanta precisão como os testes avançados, como as análises ao líquido cefalorraquidiano e os exames cerebrais, para mostrar a patologia da doença de Alzheimer no cérebro”, disse à CNN Internacional Nicholas Ashton, principal autor deste estudo.


Richard Oakley, diretor de pesquisa e inovação da britânica Alzheimer’s Society enfatiza a importância deste trabalho, desenvolvido na Suécia. “Este estudo é um passo extremamente bem-vindo na direção certa, pois mostra que os exames de sangue podem ser tão precisos quanto testes mais invasivos e caros para prever se alguém tem características da doença de Alzheimer no cérebro”, frisa. Este investigador vai mais longe e acrescenta, ao jornal The Guardian: “Além disso, sugere que os resultados destes testes podem ser suficientemente claros para não exigirem mais investigações de acompanhamento para algumas pessoas que vivem com a doença de Alzheimer, o que poderia acelerar significativamente o caminho do diagnóstico no futuro. No entanto, ainda precisamos de mais pesquisas em diferentes comunidades para compreender a eficácia destes exames de sangue em todas as pessoas que vivem com a doença de Alzheimer.”


Atualmente, as únicas maneiras de comprovar que alguém está a desenvolver a proteína p-tau217 no cérebro, são através de uma punção lombar, um exame invasivo, que requer a inserção de uma agulha na parte inferior das costas, entre os ossos da coluna, ou então através de uma tomografia por emissão de positrões (PET). Esta é uma técnica de imagem médica recente que utiliza moléculas que incluem um componente radioativo. Este, por sua vez, permitirá detetar e localizar reações bioquímicas associadas a determinadas doenças, entre as quais neurológicas, como é o caso da doença de Alzheimer.


Sheona Sclares, diretora de pesquisa no Alzheimer’s Research UK, no Reino Unido, também acredita no potencial das descobertas feitas pelo estudo levado a cabo na universidade de Gotemburgo. “Este estudo sugere que a medição dos níveis da proteína p-tau217 no sangue pode ser tão precisa quanto as punções lombares usadas atualmente para detetar as características biológicas da doença de Alzheimer, e superior a uma série de outros testes atualmente em desenvolvimento. Isto soma-se a um crescente conjunto de evidências de que este teste específico tem um enorme potencial para revolucionar o diagnóstico de pessoas com suspeita de Alzheimer”, explicou a investigadora, também ao The Guardian.


Ao mesmo tempo, este estudo, agora publicado no conceituado site Jama Medical News, abre o caminho ao diagnóstico precoce, tornando o rastreio da doença de Alzheimer tão comum como outros. David Curtis, professor honorário do UCL Genetics Institute, University College, de Londres, afirma, em declarações ao The Guardian: “Todas as pessoas com mais de 50 anos poderiam fazer análise de rotina, a cada poucos anos, da mesma forma que agora são examinadas para o colesterol alto. É possível que os tratamentos atualmente disponíveis para a doença de Alzheimer funcionem melhor naqueles diagnosticados precocemente desta forma.”


O DN contactou a associação Alzheimer Portugal, para obter uma opinião sobre esta investigação, mas sem sucesso.

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