Falta de professores em disciplinas nucleares como Matemática e Português condiciona escolhas dos alunos no Secundário. Foto: Carlos Carneiro/Global Imagens
Falta de professores em disciplinas nucleares como Matemática e Português condiciona escolhas dos alunos no Secundário. Foto: Carlos Carneiro/Global Imagens

A três meses dos exames ainda há 30 mil alunos sem professores

Contador de alunos com falta de professores, da Fenprof, aponta para 30 mil, entre os dias 12 e 16 de fevereiro. Este é um dos motivos que leva este sábado o movimento Pais em Luta pela Educação a manifestar-se. Associações de professores de Português e de Matemática alertam para implicações nos resultados dos exames.
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Há milhares de alunos sem professores, a três meses da realização de provas de aferição e de exames nacionais. O contador de alunos com falta de professores, da plataforma sindical Fenprof, aponta para 30 mil, entre os dias 12 e 16 de fevereiro (o DN procurou esclarecimentos junto do ministério da Educação, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição). Uma realidade “preocupante” e que é um dos motivos que leva os pais do movimento PELPE a marchar este sábado, em Lisboa, para exigir uma escola pública de qualidade e a resolução imediata de problemas “graves” no setor da Educação. O protesto arranca do Ministério da Educação, às 15.00, e termina em frente à Assembleia da República. Pelo caminho, os pais prometem exigir a resolução de problemas “graves”, como a falta de condições nas escolas, a falta de professores e assistentes operacionais, o excesso de alunos por turma e a violência nas escolas. Amélia Rainho, uma das organizadoras da manifestação, explica ao DN não ser mais possível “fazer tábua rasa dos problemas existentes”, sendo este “o momento certo para ir para a rua”. “Estamos em plena campanha eleitoral e há necessidade de relembrar a quem vem que há problemas graves na educação que se arrastam há demasiado tempo”, sublinha. 

Os problemas, conta, são muitos, não havendo “quase nada a correr bem nas escolas”. “Temos visto coisas que não deveríamos ver. Temos um parque escolar degradado. Isto não pode acontecer. Chove nas escolas e cada vez vai acontecer mais se não houver investimento. No Norte, os alunos levam mantas para se aquecerem. Onde estão as verbas para criar as condições mínimas de conforto para os nossos filhos?”, questiona. Amélia Rainho garante que os pais não se sentem seguros para deixar os filhos na escola onde “não têm aulas porque não há professores e não há assistentes operacionais em número suficiente para garantir a vigilância e consequente seguranças das crianças”. “Como mãe, não me sinto segura e sentir essa segurança é das questões mais importantes para nós e para os nossos filhos”, lamenta. 

Amélia Rainho indica ainda os problemas “mais que conhecidos e apontados ao longo dos anos pela comunidade educativa”, como “o elevado número de alunos sem professor a uma ou mais disciplinas, as turmas lotadas, a falta de técnicos para apoio de alunos com necessidades educativas especiais, a falta de qualidade da comida das cantinas, a existência cada vez maior de professores sem formação e o aumento crescente de violência nas escolas”. 

A Encarregada de Educação apela também a mudanças urgentes para os alunos sujeitos a exame que não tiveram professor ao longo do ano, pois estes “já partem em desvantagem em relação aos colegas que não tiveram esse problema”. “As notas dos exames têm peso para quem quer entrar na faculdade. Se os pais não tiverem como pagar explicações, os filhos serão claramente prejudicados”, refere. Amélia Rainho vai mais longe, afirmando que este problema tem implicações nas escolhas dos alunos. “Estão a destruir os sonhos dos nossos filhos. Como podem ir, por exemplo, para engenharia se não têm professor de matemática?”, questiona.

Professores de Português e Matemática lamentam desigualdades

É com “grande preocupação” que Sandra Nobre, da Associação de Professores de Matemática (APM),  vê a realização dos exames por parte dos alunos que estão sem professor da disciplina ou que tiveram um reduzido número de aulas ao longo do ano e afirma que esta deveria ser “uma preocupação, não só para os professores, alunos e pais, mas para toda a sociedade, pois a situação terá repercussões a vários níveis”. 

“A Matemática tem conteúdos de aprendizagens que têm de ser trabalhados com tempo e não podem ser só feitos apenas com estudo autónomo. Têm de ser trabalhados ao longo do tempo para que os alunos consigam aprender”, explica. Esta realidade, acrescenta, está a levar a mudanças nas escolhas após o 9.º ano, “pois, sem professor à disciplina, temem escolher, no secundário, uma área com Matemática A, onde o grau de exigência é elevado”. A docente garante, ainda, que muitos alunos partem em desvantagem para os exames nacionais, iguais para todos, os que tiveram professor à disciplina e os que não tiveram aulas. As medidas para minimizar as desigualdades, diz, deveriam ser tomadas atempadamente. “O que pudesse surgir agora, seria um penso rápido e nunca iria remediar as aprendizagens em défice que os alunos têm e que podem prolongar-se para o futuro, tendo peso nas opções que os estudantes vão tomar”, conclui.

João Pedro Aido, vice-presidente da direção da Associação de Professores de Português (APP), também lamenta a falta de “uma solução rápida, nem robusta, no curto e no médio prazo”, no que se refere à falta de professores daquela que é uma das disciplinas nucleares do ensino. E os números que apresenta não deixam margem para dúvidas sobre a dimensão do problema. “Em relação ao ano letivo anterior, faltam quase três vezes mais professores de Português para lecionar o 3.º ciclo e o secundário. Na semana antes do início do ano letivo, em 2023/24, faltavam 129 professores de Português nas escolas públicas para dar 2240 horas semanais – no ano de 2022/23, havia 48 professores por colocar, para um total de 559 horas. Ou seja, o problema agravou-se cerca de 400% em termos de horas semanais e cerca de 250% em termos de número de professores”, adianta.

Segundo o vice-presidente da APP, o grupo 300 (Português de 3.º ciclo e secundário)  continua a ser um dos que tem mais carência de docentes, sendo o terceiro, depois de Informática e Inglês, tendo havido cerca de 60% das escolas a ter de recorrer a docentes sem habilitação profissional.

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