Escola da agência da ONU em Rafah serve de abrigo a deslocados. Fim dos apoios pode pôr em causa ajuda.
Escola da agência da ONU em Rafah serve de abrigo a deslocados. Fim dos apoios pode pôr em causa ajuda.EPA/HAITHAM IMAD

Biden promete retaliar após morte de três soldados dos EUA na Jordânia

Presidente norte-americano apontou o dedo a grupos militantes “apoiados pelo Irão”. Teme-se o escalar da tensão regional em pleno conflito entre Israel e o Hamas em Gaza.
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O presidente norte-americano prometeu este domingo retaliar contra a morte de três soldados dos EUA num ataque com drone na Jordânia, junto à fronteira com a Síria. “Não tenham dúvidas: responsabilizaremos todos [os que participaram] no momento e da maneira que escolhermos”, lê-se no comunicado da Casa Branca, no qual Biden aponta o dedo a “grupos militantes radicais, apoiados pelo Irão, que operam no Iraque e na Síria”. O ataque, que ameaça escalar ainda mais a tensão regional, causou ainda 25 feridos, segundo o Comando Central dos EUA.

Desde o início da guerra em Gaza, após o ataque terrorista de 7 de outubro do Hamas contra Israel, que as tropas norte-americanas no Iraque e na Síria têm sido alvo de centenas de ataques, mas estas são as primeiras mortes registadas. Em dezembro, após três dos seus soldados terem ficado feridos na base em Irbil, no Iraque, Washington respondeu com bombardeamentos contra alvos dos militantes pró-iranianos neste país. E tem realizado várias outras ações do género não apenas no Iraque, mas também na Síria.

O ataque ocorreu no sábado à noite, tendo Biden sido informado na manhã deste domingo pelo seu secretário da Defesa, Lloyd Austin, e o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, de acordo com a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre. Apesar de dizer que as autoridades ainda estão “a recolher os factos” sobre o que aconteceu, Biden não hesitou em acusar os militantes pró-iranianos. No comunicado, prometeu continuar a luta contra o terrorismo, apelidando os militares que morreram de “patriotas no sentido mais elevado” e dizendo que representavam “o melhor” do país.

Os EUA têm cerca de duas mil tropas na Jordânia, focadas no apoio regional para acabar com o que resta do Estado Islâmico. As autoridades jordanas realizam regularmente operações militares contra o tráfico de drogas e de armas no Sul da Síria, controlado pelo regime de Bashar al-Assad, tendo ainda na semana passada nove pessoas morrido num ataque que Damasco disse ser “injustificado”.

Apesar de Biden ter dito que o ataque ocorreu na Jordânia, Amã alega que foi do outro lado da fronteira, na base síria de Al-Tanf (onde os norte-americanos se instalaram desde 2016). Mais cedo, a Resistência Islâmica no Iraque (uma coligação de grupos militantes pró-iranianos) disse ter atacado três bases norte-americanas na Síria. Esse mesmo grupo reivindicou a responsabilidade pelo ataque que matou os militares, segundo o The Washington Post. “Tal como dissemos antes, se os EUA continuarem a apoiar Israel, haverá uma escalada. Todos os interesses dos EUA na região são alvos legítimos e não nos preocupamos com as ameaças dos EUA de retaliação, sabemos a direção que estamos a tomar e o martírio é o nosso prémio”, disse ao jornal, sob anonimato, um oficial da Resistência Islâmica no Iraque.

A guerra em Gaza tem servido como desculpa para estes grupos. Os rebeldes hutis (que controlam a maior parte das zonas habitadas do Iémen e também têm o apoio do Irão) têm atacado navios comerciais no mar Vermelho, tendo os EUA e os aliados respondido com bombardeamentos no Iémen. Biden tem estado sob pressão dos republicanos para responder de forma mais forte aos ataques contra as bases norte-americanas no Iraque (no sábado, Washington e Bagdad começaram a negociar a saída das tropas da coligação do país) e na Síria. Uma pressão que aumenta agora que morreram os primeiros militares dos EUA, com as redes sociais a encherem-se de críticas republicanas.

Incluindo do ex-presidente Donald Trump, candidato à nomeação para as eleições de novembro, que considerou este "brutal ataque" uma "consequência horrível e trágica da fraqueza e rendição de Joe Biden". Numa mensagem no Telegram, Trump reivindicou que durante o seu mandato o Irão "estava fraco, falido e totalmente sob controlo, incapaz de "arranjar dois dólares para financiar os seus agentes terroristas".

"Depois, Joe Biden veio e deu ao Irão milhares de milhões de dólares, que o regime usou para espalhar o derramamento de sangue e massacres por todo o Médio Oriente. Este ataque NUNCA teria acontecido se eu fosse Presidente", disse Trump.

O presidente americano, que queria acabar com as “guerras eternas” e avançou para a retirada do Afeganistão, chega ao último ano do mandato com os seus militares debaixo de fogo em vários países do Médio Oriente, estando, na prática, numa “guerra por procuração” com o Irão.

Negociações de paz em Paris

Os chefes dos serviços secretos dos EUA, Israel, Egito e Qatar reuniram este domingo à noite em Paris, para avançar nas negociações para uma trégua na Faixa de Gaza. O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou discussões “construtivas” na Europa. “Ainda há lacunas significativas que as partes discutirão esta semana em reuniões adicionais”, acrescenta a mesma fonte.

Entretanto, França juntou-se aos países que decidiram suspender o apoio à agência da ONU de assistência aos palestinianos (UNRWA), após alegações de que funcionários estiveram envolvidos no ataque do Hamas, pondo em causa a ajuda em Gaza. “É chocante ver uma suspensão de fundos em reação a alegações contra um pequeno grupo de funcionários, especialmente tendo em conta as medidas imediatas que a UNRWA tomou ao rescindir os seus contratos e ao pedir uma investigação independente e transparente”, lamentou o comissário Philippe Lazzarini.

susana.f.salvador@dn.pt

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