O ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) não autorizou que uma aeronave proveniente dos Estados Unidos com destino a Israel sobrevoasse o espaço aéreo português para reabastecer na base das Lajes, sabe o DN de fonte governamental. A decisão, que ocorreu na semana passada, terá sido tomada com o aval do Ministro Paulo Rangel..Este foi, no entanto, apenas mais um episódio num afastamento cada vez mais profundo entre Lisboa e Telavive, incentivado, de acordo com fontes diplomáticas, por um conjunto de altos dirigentes do MNE, herdados do ex-ministro socialista, João Gomes Cravinho, com a atual diretora-geral de Política Externa (DGPE), Helena Malcata, e o novo embaixador português na Organização das Nações Unida (ONU), Rui Vinhas, à cabeça. .Vinhas era o DGPE de Cravinho, foi exonerado desse cargo a cinco de fevereiro deste ano (um mês antes das eleições) “com efeitos a 31 de maio” - o que causou alguma estranheza - sendo nesse mesmo dia nomeado para o cargo de Representante Permanente de Portugal junto da ONU “com efeitos a 1 de junho de 2024”. Malcata, que era diretora-geral dos Assuntos Europeus, já foi designada para o atual cargo por Paulo Rangel..O não reconhecimento unilateral da Palestina como Estado - Espanha, Irlanda e Eslovénia fizeram-no recentemente na União Europeia (UE) - assumida pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, em finais de maio, durante uma visita a Berlim, foi entendido em Israel como um sinal de que a posição do novo Governo da AD podia divergir do executivo PS..“Portugal votou favoravelmente na Assembleia Geral das Nações Unidas o reconhecimento da Palestina como membro de pleno direito desta organização (...) Relativamente a reconhecimentos unilaterais, nós não estamos em condições de o fazer, não o vamos fazer nesta oportunidade, e aguardaremos uma discussão de aprofundamento deste assunto na UE”, frisou o líder do governo português..Mas tal não tem acontecido, muito em resultado do agravamento da guerra em Gaza, que cada vez mais países consideram desproporcional pelas vítimas civis que tem causado..Embaixador espera agreement há dois meses.A proibição de sobrevoo - que deixou quer Telavive, quer os EUA surpreendidos - surgiu numa altura em que a tensão entre os dois Estados, que arrefeceu desde as declarações do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre o massacre de 7 de outubro, já se estava a agravar-se por causa da colocação do substituto do anterior embaixador de Israel para Portugal, Dor Shapira, que deixou Lisboa em Julho passado. .O novo embaixador é Oren Rozenbla, atual vice-porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, fluente em português (liderou antes a representação diplomática de Angola e Moçambique), está há quase dois meses à espera de “agreement” do MNE português, uma demora que as mesmas fontes diplomáticas entendem como “um sinal evidente” de que uma possível rutura é um risco assumido nas Necessidades..Do lado de Israel, porém, não foram colocados nenhuns obstáculos e a nova embaixadora para Televive, Helena Paiva, foi reconhecida em menos de duas semanas. A diplomata teve como último posto Atenas e antes foi embaixadora em Cabo Verde e na Namíbia. Entre 2008 e 2010 foi diretora adjunta do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED)..Nesta quarta-feira, a votação de Portugal na assembleia-geral da ONU de uma resolução, proposta pela Autoridade Palestiniana, que exige a Israel a retirada de todos os territórios ocupados no prazo de um ano, foi acompanhada com expectativa..Apesar de as orientações de Rui Vinhas serem do voto a favor, a possibilidade de uma abstenção chegou a estar no horizonte. Portugal votou a favor desta resolução - que propõe sanções e embargo de armas contra o governo de Benjamin Netanyahu - aprovada pela maioria dos Estados-Membros (124 a favor; 14 contra e 43 abstenções) que, apesar de não ser vinculativa, constitui mais uma medida para isolar o Israel no panorama internacional, na sequência da resposta ao ataque de 7 de outubro liderado pelo Hamas, que governa a faixa de Gaza. .Portugal tem sempre votado a favor das resoluções propostas pela Autoridade Palestiniana, contra Israel, seguindo, de resto, a tendência de boa parte dos outros Estados-Membros da UE. .De acordo com a UN Watch database, uma Organização Não Governamental, com sede na Suíça, que monitoriza o sentido de voto dos vários países com assento na assembleia-geral da ONU, 80% da votação de Portugal contra Israel, com abstenção para 30 resoluções e nenhum voto a favor..Desde que o Governo tomou posse em abril, terão também surgido decisões contraditórias entre o MNE e o ministério da Defesa Nacional. Fontes militares que têm acompanhado estes processos, disseram ao DN que Enquanto o ministro da Defesa tenta manter alguns acordos e protocolos com Israel, especialmente na área tecnológica, que beneficiam a indústria de defesa nacional, Rangel coloca o seu veto. O DN tentou confirmar esta situação com Nuno Melo, mas não recebeu resposta até ao fecho desta edição..Questionado o gabinete de Paulo Rangel , entre outras perguntas, sobre qual é, neste momento a posição do governo em relação ao reconhecimento do Estado da Palestina; sobre qual é a posição face à forma como o governo de Israel tem conduzido o invocado direito a defender-se; sobre o atraso no agreement para o novo embaixador de Israel em Portugal; sobre o motivo que levou à proibição do sobrevoo e abastecimento nas Lajes; e o veto a acordos da Defesa, o porta-voz declarou que “não haverá resposta”, devido ao envolvimento do ministério “na coordenação política por causa dos incêndios”.