Noah é um apelido sobejamente conhecido e respeitado no desporto mundial, mas não é desse Noah, Yannick de nome próprio, que falamos – o antigo tenista francês, hoje com 64 anos, continua a ser uma referência....Este Noah, onde brilham atualmente onze portugueses, é bem mais novo e o atual nome, assim como o clube, têm uma história para contar. O clube original nasce em 2017 no Nagorno-Karabahk, um território separatista habitado por arménios no Azerbaijão, com o nome de FC Artsakh (em 2020, os azeris reconquistaram esse território e os arménios do Nagorno- Karabahk refugiaram-se na Arménia) Em 2019, porém, já o clube passava por enormes dificuldades e foi nessa altura que um grupo de investidores arménios, residentes na Arménia, decidiu, por uma questão de solidariedade, salvá-lo. A sede passou a ser na capital da Arménia, Yerevan, e o FC Artsakh dá lugar ao FC Noah... inspirado na Arca de Noé – a escolha do nome faz referência ao Monte Ararat, que é associado ao local onde a Arca de Noé terá repousado após o dilúvio bíblico (o Monte Ararat, refira-se, é um símbolo importante na cultura e história da Arménia, e a associação com a Arca de Noé é uma forma de ligar o clube a essa herança cultural e religiosa.)Atualmente, a equipa já vai despertando curiosidade na Europa pelo trajeto que está a assinar, sobretudo, na Liga Conferência. Começou na 1.ª pré-eliminatória e foi derrubando adversário atrás de adversário, quais pinos no bowling, entre eles os conceituados gregos do AEK Atenas..Nos seus quadros trabalham onze portugueses: o chefe da equipa técnica, Rui Mota, de 45 anos, conta com o apoio de Paulo Leitão (coordenador geral), Pedro Elias (analista), Paulo Moreira (coordenador de scouting), Nuno Mota (coordenador técnico), André Freixieiro (treinador adjunto), Luís Barbosa (preparador físico) e Bruno Freitas (treinador de guarda-redes)... A estes sete elementos juntam-se ainda os jogadores Gonçalo Silva, defesa-central de 33 anos, Hélder Ferreira, extremo/avançado de 27 anos, e Gonçalo Gregório, ponta-de-lança de 29 anos, que se estão a revelar fundamentais..Um projeto recente, com gestão ambiciosa, com um claro investimento na equipa de futebol (o objetivo de fazer frente a Alashkert e Ararat-Arménia, principais clubes arménios...), sem descurar o futebol de formação. Entre títulos já conquistados, como a Taça da Arménia (2019/2020) e a Supertaça (2020), está, agora, a um pequeno passo de fazer história e disputar a fase de grupos de uma competição europeia (Liga Conferência) – já deixou para trás Shkendija (Macedónia), Sliema (Malta) e AEK (Grécia).Para já, na derradeira eliminatória antes de garantir o apuramento, bateu os eslovacos do Ruzomberok, em casa, por 3-0 – a 2.ª mão, na Eslováquia, está agendada para quinta-feira. O sonho está a um pequeníssimo passo....“A superar as expectativas”.Rui Mota é o grande responsável pelo momento único que o clube vive. “O Noah nunca tinha conseguido passar da primeira pré-eliminatória da Liga Conferência”, lembra o treinador, que durante sete anos foi adjunto de Ricardo Sá Pinto. “Está a ser um grande início de época. E se eu disser que, a três semanas do primeiro jogo oficial, para a Liga Conferência, tínhamos 9 jogadores... Penso que estamos a superar as expectativas, melhor seria impossível”, realça..O técnico que, enquanto chefe de equipa, nunca trabalhou no principal escalão do futebol português, acredita piamente no projeto do clube arménio. “Percebi que as pessoas do clube estão empenhadas na conquista de títulos, algo que também quero para a minha carreira. É um clube que está a crescer, quer ser uma referência da Arménia na Europa, e que não tem um projeto para guardar na gaveta. Há aqui ambição de lutar por coisas importantes”, reforça. Rui Mota elogia ainda as condições de trabalho do clube. “Penso que em fevereiro já vai estar construída a academia, muito ao estilo da Cidade do Futebol, da FPF”, comenta..Dar a vida em cada jogo.Se o treinador está feliz, os jogadores também. Gonçalo Silva é totalista. “Estava um bocado indeciso, porque a minha primeira experiência no estrangeiro não correu bem, mas desde que cheguei que percebi imediatamente que ia ser diferente. Sinto-me muito bem aqui, sinto confiança. Tive uma receção cinco estrelas, todos querem dar-nos o melhor. E os resultados estão à vista”, afirma o defesa-central que representou Sp. Braga, Belenenses e Farense. Já Hélder Ferreira, que passou por V. Guimarães e Paços de Ferreira, reconhece que “não estava à espera” do que está a acontecer: “As condições surpreenderam-me. Não temos muita experiência em competições europeias, será um novo desafio para todos, mas uma coisa é certa: vamos encarar cada jogo como se fosse o último das nossas vidas.”.Gonçalo Gregório é o melhor marcador da equipa. “Estou muito bem aqui. Gosto do país, da equipa...”, diz o antigo ponta-de-lança da U. Leiria. E acrescenta: “Tento ajudar com golos, mas o meu trabalho não é só esse. Estou muito feliz, sobretudo, por as coisas estarem a correr bem coletivamente”. Apesar dos registos relevantes em cada época no que diz respeito a golos marcados, nunca teve oportunidade de jogar no principal escalão em Portugal. “Não guardo mágoa por isso, as coisas acontecem quando têm de acontecer, mas acho que os clubes portugueses deviam apostar mais nos jogadores nacionais e olhar para eles da mesma forma que olham para quem chega de fora”, comenta..Mas o tempo é de festa e, em breve, o Noah pode estar a medir forças com clubes como Chelsea ou Vitória de Guimarães, entre outros nomes importantes. Para já, é caso para dizer... ‘Noah’ pai para eles!.dnot@dn.pt