Durante o jogo, entre Liverpool e Sevilha, de apresentação dos reds aos adeptos só numa única ocasião Arne Slot, o novo treinador do clube inglês, tirou as mãos dos bolsos e gesticulou qualquer coisa para o campo, contou Andy Hunter, nas páginas do jornal The Guardian, de segunda-feira, 12..O repórter pretendia enfatizar a diferença de comportamento do treinador holandês em relação ao antecessor, o feroz, enérgico, sanguíneo e germânico Jürgen Klopp, que não deixava os tímpanos dos atletas – e do quarto árbitro – sossegados durante os 90 minutos e vibrava como se estivesse no Kop..Mas, sem querer, fez uma metáfora sobre o comportamento do clube no mercado de transferências: a Era Slot está, a dois dias do início da Premier League, tão calma como o técnico no banco; e a usar os bolsos apenas para se proteger do frio do norte de Inglaterra..Se os observadores esperavam uma revolução em Anfield, depois de nove anos de Klopp, o que afinal estão a ver são tempos de paz, calmaria, monotonia, sonolência: no total, a Premier League já gastou em transferências 1,2 mil milhões de euros mas nem um cêntimo – ou um penny, se falarmos em libras – saiu dos cofres dos reds.Mas e por que é que o Liverpool, um dos candidatos tradicionais a ganhar tudo, não se mexe, mesmo com rivais, como o Aston Villa, o Chelsea, o Manchester United e o Brighton a gastarem já 176, 113, 105 e 92 milhões de euros, respetivamente?.Há quatro ou cinco razões, segundo o site Transfermarkt e os colunistas da imprensa inglesa. Em primeiro lugar, Slot não pretende agitar as águas além do necessário, depois de a troca de treinador, após uma era tão vitoriosa e marcante de Klopp, já as ter naturalmente agitado..Por outro lado, ele está verdadeiramente encantado com o plantel que tem, anos luz à frente do do Feyenoord que treinava antes no país natal..Em terceiro lugar, apesar de ser um clube high profile no futebol mundial, o Liverpool sempre manteve (relativo) low profile na contratação de atletas, comprando só depois de vender e gastando até menos, nos últimos anos, do que Tottenham ou West Ham, por exemplo. Mo Salah, a maior estrela do clube da Era Klopp, custou uns “meros” 42 milhões pagos à Roma em 2017. O jogador mais caro da história do clube é um defesa, Virgil Van Dijk, chegado do Southampton por 84,7 milhões, praticamente um terço do que Neymar custou ao Paris Saint-Germain..E, finalmente, 2023/24 até foi um ano de raro investimento pesado para Tom Werner, o magnata americano que detém o clube: a diferença entre receitas e despesas no mercado do verão passado foi de -111,3 milhões de euros por culpa das chegadas de Szoboszlai, Mac Allister, Gravenberch e Endo..No entanto, os especialistas veem margem para contratações no plantel: o ex-benfiquista Darwin Núñez não tem concorrência direta na posição 9; o lateral-direito Frimpong, do Bayer Leverkusen, é visto com bons olhos em Anfield; o extremo Gordon, do Newcastle, já foi até oferecido; Yilmaz, do Galatasaray, está no radar; e Zubimendi, da Real Sociedad, é especulado..“Sim, ficaria surpreendido se até ao fim da janela não contratássemos ninguém, mas temos uma boa equipa, os jogadores estão a voltar de férias, uma contratação teria de ser muito bem pensada”, disse Slot, sobre o tema. Provavelmente, sem tirar a mão dos bolsos.