Nicolás Maduro é comunista?
O Partido Comunista da Venezuela, o primeiro partido a declarar, em 1998, o apoio à candidatura à Presidência de Hugo Chávez, cuja eleição mudaria radicalmente a vida do país, comunicou segunda-feira que, “assim como o Governo de Nicolás Maduro privou o povo venezuelano dos seus direitos sociais e económicos, hoje pretende privá-lo dos seus direitos democráticos” e exigiu “que a CNE publique todos os registos de votação - conforme estabelecido pelo regulamento eleitoral - bem como a máxima transparência no escrutínio dos resultados.”
O Partido Comunista da Venezuela, que apoiou em 2013 a primeira candidatura de Nicolás Maduro, duvida dos resultados eleitorais oficiais apresentados domingo passado, que supostamente o reelegeram, e declarou apoiar “o grito de respeito pela vontade popular” lançado em diversas manifestações.
O Partido Comunista da Venezuela, apesar do apoio dado a Chávez e a Maduro durante 22 anos, cedidos para evitar o ascenso da direita reacionária e para ajudar a resistir ao intervencionismo imperialista norte-americano e europeu, sempre criticou as políticas económicas rentistas desses Governos, dependentes da faturação do petróleo e de outros recursos naturais, defendendo políticas de investimento na atividade produtiva que trouxessem uma riqueza real, independente e estável aos venezuelanos. Nunca foi ouvido.
O Partido Comunista da Venezuela rompeu definitivamente com Maduro em 2020, rejeitou a degradação da democracia, a corrupção institucionalizada em diversos patamares do Estado, a diminuição das liberdades políticas e sindicais, condenou a frequente repressão sobre trabalhadores, a entrega ao grande capital internacional de partes cruciais da atividade económica (por exemplo, a norte-americana Chevron tem 34% da companhia venezuelana de petróleos e participa no capital de outras empresas mistas do setor da energia), o fim de inúmeros benefícios sociais e a degradação dos salários reais (o salário mínimo é de, apenas, 3,24 euros mensais!).
O Partido Comunista da Venezuela, depois do Congresso de novembro de 2022, onde o PCP esteve representado, agudizou as críticas a Maduro e em agosto de 2023 foi sujeito a uma intervenção do Governo, feita através do Supremo Tribunal de Justiça, que demitiu o secretário-geral do partido, Óscar Figuera, que o liderava desde 1996. A seguir, o tribunal nomeou para esse cargo e para presidente do partido duas pessoas da confiança do Governo.
O Partido Comunista da Venezuela, que não aceitou a mudança da sua direção, apelou ao voto, no domingo, no candidato Enrique Marquez, um político de centro-esquerda, mas que propunha um Governo de unidade nacional que rejeitasse Maduro e Edmundo González, o candidato da direita revanchista, manifestamente apoiado pelos Estados Unidos e por vários países da União Europeia.
Nicolás Maduro é comunista? Pois, claramente, para o Partido Comunista da Venezuela, que o conhece bem, não é: Óscar Figuera diz mesmo que ele é, cito... “neoliberal”!
Espantem-se, ó ufanas máquinas de propaganda política!
PS: Irei fazer uma pausa nestes artigos durante algumas semanas. Conto regressar no dia 18 de setembro.