Seca. Cortes de água no Algarve ameaçam produção de 95 mil toneladas de frutos

Seca. Cortes de água no Algarve ameaçam produção de 95 mil toneladas de frutos

As restrições impostas ao consumo de água para poupar água devido à seca que afeta a região podem também colocar em causa cerca de 1.000 postos de trabalho, só na produção de abacates e frutos vermelhos.
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Os cortes de água previstos para a agricultura algarvia ameaçam a produção de 95.000 toneladas de frutos e a perdas de 130 milhões de euros em negócios, em 2025, advertiu a Comissão para a Sustentabilidade Hidroagrícola do Algarve.

As restrições impostas ao consumo de água para poupar água devido à seca que afeta a região podem também colocar em causa cerca de 1.000 postos de trabalho, só na produção de abacates e frutos vermelhos, alertou a recém-criada comissão, que agrupa 120 produtores, agricultores e associações de regantes do Algarve.

A comissão, que se constituiu para defender os seus interesses depois de o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, anunciar cortes de 25% para agricultura e de 15% para o setor urbano, incluindo o turismo, fez esta advertência num primeiro levantamento aos impactos que a medida do Governo terá para a agricultura da região.

"Os cortes do fornecimento de água no Algarve anunciados pelo Governo podem levar a uma quebra na produção de 88.000 toneladas de laranjas, 6.500 toneladas de abacates, 850 toneladas de frutos vermelhos, cerca de um milhão de garrafas de vinho e toda a produção ornamental, no espaço de um ano", quantificou.

Segundo a mesma fonte, a economia destes setores poderá perder 134 milhões de euros em 2025, além dos impactos que se vão fazer sentir também nas produções em 2024, como uma diminuição de 16% na produção de citrinos composta por frutos mais pequenos e com menos sumo.

A comissão estimou que estão em causa 1.000 postos de trabalho nas produções de abacates e frutos vermelhos, assim como uma quebra de 60% na produção de vinho, mas classificou como o "cenário mais grave" o das flores ornamentais, que poder ter "uma quebra total do setor em 2025".

"As medidas ainda colocam em risco cerca de 24 mil animais" entre bovinos, ovinos e caprinos, assinalou ainda a comissão.

Alertando que o "cenário apresentado poderá agravar, caso não chova, a estimativa do Governo para os próximos meses", a comissão sustentou que os cortes de 25% anunciados para a agricultura são "uma mera operação de cosmética" por considerar que há reduções a chegar a 72%.

"Com as novas medidas anunciadas pelo Governo, o perímetro de rega do sotavento [este] terá um corte de 72% e os perímetros de rega do barlavento [oeste] terão cortes entre os 65% e os 100% (Silves, Lagoa e Portimão e Bravura, respetivamente)", contrapôs a comissão constituída pelo setor agrícola algarvio.

A mesma fonte salientou que não se opõe a medidas que visem poupar as reservas de água, quando há um evidente problema que "se arrasta há décadas sem soluções", mas considerou que "a agricultura não pode continuar a ser considerada o parente pobre da economia algarvia" quando os municípios desperdiçam 30 hectómetros cúbicos nas perdas das redes de abastecimento.

A primeira análise da comissão sobre o impacto dos cortes de água na produção agrícola do Algarve surgiu depois de, em 17 de janeiro, em Faro, o ministro do Ambiente ter anunciado cortes de 25% para a agricultura e de 15% para o setor urbano.

Duarte Cordeiro anunciou as restrições ao consumo de água no Algarve após uma reunião da comissão que acompanha os efeitos da seca e afirmou, na ocasião, que, "se nada fosse feito relativamente à moderação do consumo, chegar-se-ia ao final do ano sem água para abastecimento público" no Algarve.

Os cortes decididos na reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, que durou quase quatro horas e contou com a presença da ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, foram menores que os que estavam inicialmente previstos para a agricultura e que se estimavam em 70%.

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