Um quinto da despesa em saúde contribui pouco ou nada para a melhoria da saúde

Relatório da OCDE sobre combate ao desperdício sugere que se opte por genéricos e melhor resposta nos cuidados de saúde primários para evitar falsas urgências
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Os governos podem gastar menos e ainda assim melhorar a saúde dos doentes. Como? Fazendo um esforço para aumentar a eficiência dos gastos em saúde. A conclusão é da OCDE, que no relatório sobre o combate ao desperdício Tackling Wasteful Spending on Health, aponta que entre 12% e 56% das urgências podem ser tratadas em serviços menos caros e que um em cada três bebés nasce de cesariana quando as taxas deste tipo de intervenção não deveriam ser superiores a 15%.


"Numa altura em que os orçamentos públicos estão sob pressão, é alarmante que um quinto das despesas em saúde contribuam nada ou muito pouco para melhorar a saúde dos doentes", refere a OCDE no relatório publicado na terça-feira. São vários os fatores que pesam nas contas. Segundo o relatório "mais de 10% da despesa hospitalar são gastos a corrigir erros médicos evitáveis ou infeções que são adquiridas nos hospitais", "a fraude e o erro custam em média 6% dos gastos em saúde", a existência de sobrediagnóstico e sobretratamento e prescrição inapropriada de antibióticos.


As estratégias para fazer mais com menos, aponta o documento, passa por parar de fazer atos desnecessários, optar por genéricos e garantir que os doentes têm a resposta necessária nos centros de saúde para evitar idas desnecessárias às urgências dos hospitais. "Muitas pessoas recorrem aos hospitais quando não precisam, com problemas não urgentes. Situações que podem ser evitadas com uma melhor gestão dos pacientes nos cuidados de saúde primários", diz o relatório, que acrescenta: "Estas situações são caras e podem prejudiciais no atendimentos dos casos mais graves. Também prejudicam a qualidade dos cuidados porque aumentam os tempos de espera e atrasam diagnósticos e tratamentos".


Portugal está no topo da lista como o país, de 21 analisados, com mais atendimentos nos serviços de urgência per capita. Os dados, referentes ao período 2002-2011, mostram mais de 70 admissões nas urgências por 100 habitantes. "Também estão muito acima da média da OCDE a Espanha, Grécia, Chile, Canadá e Estados Unidos com mais de 40 admissões por 100 habitantes. Na outra ponta estão a República Checa, Alemanha, Nova Zelândia, Holanda e Suíça com menos de 20 admissões por 100 habitantes. Estudos posteriores mostram que a percentagem de urgências inapropriadas foi de 12% nos Estados Unidos, 31% em Portugal, 20% em Itália e 56% na Bélgica."

A média de dias de internamento também foi avaliada como sendo uma componente de eventual fonte de desperdício. Em 2014 a média de Portugal rondava os oito dias. No Japão e na Coreia eram mais de 15, enquanto que na Dinamarca e no México eram menos de cinco. "As diferenças podem estar relacionadas com vários fatores. Um deles pode ser a ineficiência dos processos hospitalares, levando a atrasos nos tratamentos, ou a má coordenação com outras áreas", como os cuidados continuados. Mas também refere que médias muito curtas podem não significar eficácia, mas antes altas antes do tempo. Por isso sugerem que os países façam uma análise aos internamentos para tomar as medidas que possam traduzir melhores custos e eficácia.

No que diz respeito aos medicamentos, a OCDE salienta a importância dos genéricos como fonte de poupança. "Os pacientes têm interesse em escolher medicamentos mais baratos se o pagamento a seu carto é baixo com genéricos do que com medicamentos de marca. Alguns países introduziram novos incentivos. Na Grécia e na Irlanda os doentes pagam a diferença de preço se escolherem um medicamento de marca em vez de um genérico. Em França, desde 2010, os pacientes têm de pagar antecipadamente o valor da medicação e são posteriormente ressarcidos se recusarem a troca por um genérico", refere o relatório, que adianta que em alguns países, onde se inclui Portugal estão a ser feitas campanhas de informação para promover o uso de genéricos explicando que têm a mesma bioequivalência que os que lhe deram origem.

"Estas políticas, associadas à perda de patente que alguns dos tops de venda nos últimos anos terão contribuir significativamente para o aumento do mercado de genéricos na última década em vários países. Em Portugal o mercado de genéricos passou virtualmente de zero em 2000 para 41.3% em volume em 2015. Em Espanha chegou aos 47,6% em volume em 2014, quando era de 9% em 2000". O documento assinala o aparecimento dos biossimilares (referindo-se aos mesmos como genéricos dos medicamentos biológicos) como uma nova perspetiva de libertar fundos.

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