"Um padre disse-me que devia ser enforcado como um traidor"
Como vê o processo que o Vaticano tem contra si?
É um processo kafkiano porque os jornalistas que denunciaram os vendilhões do templo com provas muito incontestáveis, muito verdadeiras foram processados, apenas por terem feito o seu trabalho. Os vendilhões do templo, pelo contrário, estão em liberdade e não têm nenhum processo. Esta é a inversão da realidade, por isso eu entendo que é um processo errado. Estou muito triste. Nunca me passou pela cabeça enquanto escrevia este livro que seria o jornalista a ter um processo no Vaticano porque ameacei a segurança nacional, segundo eles. Se a casa do cardeal Bretone é segurança nacional ou se os quase 500 mil milhões de euros que Hospital Menino Jesus, em Roma, esconde ao IOR [o Banco do Vaticano] para comprar ações da Exxon e da Dow Chemical, que são empresas que poluem e matam, se estes assuntos são violação da segurança nacional estou contente por o ter feito. Repetiria de novo amanhã este crime.
Depois da publicação do livro foi ameaçado?
Tive uma única ameaça. Recebi chamadas anónimas que não diziam coisas simpáticas de mim. Houve um padre, que é o diretor da rádio mais ouvida em Itália que é a Radio Maria, que disse que eu devia ser enforcado como um traidor, como Judas, que devia ter o mesmo fim. Aí chamei a polícia, não que tenha acontecido alguma coisa, mas é uma transmissão muito ouvida e tive medo que algum maluco ouvisse e decidisse fazer alguma coisa. Além disso, muitas pessoas tentaram distanciar-se de mim, até muitos colegas. Porque pensam que na Igreja não se deve tocar e outros com um pouco de inveja, o que é normal, fazes um livro que funciona e dizem logo que fiz o livro só para ganhar dinheiro.
Disse há pouco que não é crente.
Sou agnóstico. Sou batizado, batizei-me quando já tinha dez anos. Sou da comunidade católica, mas não sou um católico praticante e depois com o decorrer dos anos tornei-me agnóstico.
E a sua família?
O meu pai é católico e a minha mãe foi católica, agora à medida que foi envelhecendo e está doente perdeu um pouco a fé. O meu irmão é hare krishna, a minha mulher era budista e agora ela também é agnóstica. Digamos que tenho as religiões de meio mundo na minha família. Mas eu sou agnóstico, embora em casa sempre tenhamos falado de religião.
Como é que a sua família reagiu ao livro?
O meu pai disse que para ele o livro é importante porque pode ajudar a criar uma Igreja mais limpa, se se fizer uma limpeza àquilo que eu escrevo no livro. A minha mulher não ficou contente por causa de todos os problemas que se criaram. A nossa vida mudou um pouco, eu estou sempre fora por causa do livro, há um processo, temos jornalistas à porta de casa.
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