O que está na origem de derrocadas das arribas?.Não há uma única causa para estas situações. A própria natureza geológica das arribas tem influência na maior ou menor estabilidade das falésias e acaba por ser um dos fatores que determinam a ocorrência de derrocadas. A costa portuguesa é em grande parte constituída por falésias e arribas, que estão expostas a inúmeros fatores de desgaste e erosão, como é o caso dos ventos, da chuva, das marés e da ondulação, das grandes oscilações de temperatura e até a atividade sísmica que, em conjunto, contribuem para a sua desagregação material e consequente instabilidade. Na prática, estas derrocadas fazem parte da evolução natural das falésias, que não pode ser evitada..É possível prever ocorrências deste tipo?.Não, de acordo com os especialistas, o estado atual da ciência não tem ainda capacidade para prever a data ou o local da derrocada de uma arriba. Ou seja, o nível de previsão de um fenómeno deste tipo é semelhante ao da previsão sísmica: não se sabe quando vai acontecer..Qual é relação entre a erosão costeira e este tipo de fenómenos?.Na verdade, os segundos decorrem do primeiro. Ou seja, a erosão costeira está intimamente ligada à ocorrência de desmoronamentos de arribas e falésias, com o consequente recuo da linha de costa. Acresce que neste tempo de alterações climáticas em curso devido à ação antropogénica o nível do mar está numa tendência de subida, nesta altura a uma taxa média anual de três a quatro milímetros, embora haja regiões onde essa subida é maior e outras onde é um pouco menor. A subida do nível do mar coloca maior pressão na costa e contribui, naturalmente, para o seu recuo..Qual foi até hoje o acidente mais grave relacionado com a queda de arribas em Portugal?.Foi, justamente, o que ocorreu na praia Maria Luísa há sete anos, em agosto de 2009, quando o desmoronamento de uma arriba causou a morte a cinco pessoas que estavam na sua base. Foi essa tragédia que acabou por consciencializar as pessoas, e de forma bastante brutal, para os riscos de estarem próximas de falésias instáveis na praia..A derrocada de ontem também foi na praia Maria Luísa? Porque são tão frequentes ali?.Aquelas são, justamente, arribas de substrato frágil e portanto mais instáveis. De um modo geral, todas as arribas do litoral algarvio, desde a zona do barlavento, que têm materiais rochosos facilmente desagregáveis, como é o caso da praia Maria Luísa, têm este risco..Estes desmoronamentos estão a aumentar na costa algarvia?.Dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) mostram que entre julho do ano passado e julho deste ano houve 21 desmoronamentos de arribas no litoral do Algarve, o que é praticamente o dobro da média dos ocorridos na última década, que foi de 12. Segundo a APA, este aumento de desmoronamentos foi uma consequência direta do pico de precipitação ocorrido em novembro do ano passado na zona de Albufeira, que causou inundações na localidade e na região. Essas inundações, por sua vez, terão originado infiltrações no terreno e causado as derrocadas das arribas, cujo aumento neste período aconteceu exatamente na região de Albufeira..É possível minimizar os riscos de desmoronamentos?.Uma das coisas a fazer é evitar o acréscimo de atividade humana que contribui para a erosão das falésias e arribas, como a construção de edifícios ou de campos de golfe, que contribuem para a infiltração dos terrenos e apressam a desagregação dos materiais, desencadeando as derrocadas. A identificação técnica dos locais em maior risco e a intervenção, para consolidar ou derrubar arribas, consoante os casos, são outra possibilidade..O que devem as pessoas fazer para não se exporem a riscos nas praias?.Devem acatar os conselhos inscritos nos sinais de alerta existentes nas praias. Isso significa afastarem-se para uma distância segura das arribas. Essa distância é em geral calculada em relação à altura da arriba. A distância segura é 1,5 vezes a altura da arriba.