Morreu no hospital por não haver equipa especialista ao fim de semana
Um homem morreu no dia 14 de dezembro no Hospital de São José, de acordo com o Correio da Manhã desta terça-feira, após três dias internado a aguardar uma cirurgia a um aneurisma cerebral, por falta de equipa completa para realizar neurocirurgia durante o fim de semana.
Ao jornal, a mãe do homem de 29 anos contou que este deu entrada no hospital de Santarém na sexta-feira, dia 11, com dores de cabeça, parcialmente paralisado e incapaz de falar. Foi transferido para o Hospital de São José, em Lisboa, onde aguardou cirurgia até segunda-feira para o que seria um aneurisma cerebral. Acabaria por morrer antes de a cirurgia ser realizada, apesar de ter sido marcada para o dia 14.
Um familiar disse ao Correio da Manhã que os médicos do São José lamentaram o facto de o aneurisma ter acontecido na sexta-feira, visto que durante o fim de semana não havia equipa completa para realizar uma neurocirurgia.
Ao Diário de Notícias, o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), ao qual pertence o Hospital de São José, confirmou que a prevenção aos fins de semana de neurocirurgia vascular está suspensa desde abril de 2014. Como a prevenção ao fim de semana é de regime voluntário, alguns especialistas optaram por deixar de a fazer, devido à alteração dos regimes remuneratórios.
Embora existam dois neurocirurgiões no Hospital de São José 24 horas por dia, a neurocirurgia de urgência de aneurismas é "altamente especializada", disse ao DN porta-voz do CHLC, e requer uma equipa "especialmente habilitada" para a realizar "com resultados satisfatórios".
Namorada conta o que aconteceu
Elodie Almeida relatou os momentos desde que David Duarte, de 29 anos, começou a sentir-se mal e a ficar "paralisado do lado direito e sem conseguir formular frases", até à transferência para o Hospital de São João e a espera por uma cirurgia a um aneurisma cerebral que só poderia acontecer na segunda-feira por falta de equipa para a realizar.
"Tentava falar mas era incapaz, apenas conseguia gritar e chorar", escreve Elodie Almeida, de 25 anos, num texto publicado pelo Expresso. David Duarte teve de ser transportado de carreira de rodas e no Hospital de Santarém recebeu a notícia da gravidade do problema: "Anunciaram-nos, numa sala à parte, que o David tinha tido uma hemorragia cerebral e um grande hematoma e teria de ser transferido de urgência para o Hospital de São José, em Lisboa. Apenas tive tempo de lhe dar um beijo. Ele abriu os olhos e eu disse-lhe: 'Eles vão cuidar de ti'."
Já no São José, explicaram à namorada e à família que o sangue se tinha espalhado pelo cérebro "e que, geralmente, estes casos de urgência teriam de ser tratados de imediato". "Mas como os médicos referiram, infelizmente calhou ser numa sexta-feira, logo não iria haver equipa de neurocirurgiões durante o fim de semana. O David teria de aguardar até segunda para ser operado. Deram-me a entender que o sangue espalhado pelo cérebro poderia, muito provavelmente, causar sequelas e posteriormente múltiplos AVC", lê-se no texto.
A família e Elodie ponderaram pedir a transferência para outro hospital, onde David Duarte tivesse possibilidade de ser operado ainda durante o fim de semana: "Pelo que entendi, a melhor opção era sem dúvida o Hospital São José e não seria apropriado transferi-lo."
No domingo, o homem de 29 anos foi colocado em coma induzido depois de durante a noite o seu estado de saúde ter piorado. Na segunda-feira, Elodie ligou várias vezes para o São José para saber o resultado da operação. A resposta foi que não se tinha realizado e que deveria ir ao hospital. Foi então que a namorada e a família foram informados que David Duarte "tinha tido morte cerebral e que seria irreversível".
(Notícia atualizada às 19:46)