Advogado e dirigente do PDR suspeito de homicídio de cliente
O advogado Pedro Grancho Bourbon, 41 anos, com escritórios em Braga, Coimbra e Porto, secretário-geral do Partido Democrata Republicano (PDR) de Marinho Pinto, foi ontem detido pela Polícia Judiciária por suspeita de envolvimento no rapto a 11 de março, em Braga, e posterior homicídio de um seu antigo cliente, o empresário João Paulo Fernandes.
Nos crimes estarão envolvidos mais dois advogados, sendo um deles Manuel Grancho Bourbon, irmão de Pedro. O grupo criminoso, num total de sete detidos, é ainda composto por empresários e por um homem que já tinha antecedentes criminais por homicídio tentado e tráfico de droga. O mistério do que aconteceu ao empresário raptado da garagem de sua casa a 11 de março, em Braga, em frente à filha de oito anos, foi ontem resolvido pela Polícia Judiciária do Porto, que não tem dúvidas de que a vítima foi assassinada logo a seguir ao rapto. O corpo ainda não foi encontrado, soube o DN.
A morte do empresário estará ligado ao facto de o advogado Pedro Grancho Bourbon ter sido contratado pela família Fernandes para, alegadamente, esconder casas e terrenos dos credores de duas empresas de construção que entraram em falência, sendo uma delas a Fernando M. Fernandes (o nome do pai do empresário).
Nas buscas foram apreendidas várias armas de fogo, gorros, algemas, elevadas quantias de dinheiro, carros, documentos, entre outros objetos. Segundo apurou ontem o DN, os interrogatórios judiciais aos sete detidos só começarão hoje.
Segundo apurou o DN, o advogado ter-se-á apropriado dos bens, o que resultou numa queixa-crime apresentada pelo pai de João Paulo Fernandes contra o advogado e a empresa que criou para esconder os bens. Como noticiou o Jornal de Notícias, esse inquérito foi arquivado pelo Ministério Público.
No centro do rapto e do homicídio de João Paulo Fernandes estará esse alegado desvio de bens pelo advogado. Dois milhões de euros da venda de imóveis e outros bens que "desapareceram".
Pedro Grancho Bourbon chegou a afirmar ao Correio da Manhã ter sido ele a afastar-se dos processos que tinha do empresário por "falta de pagamentos de honorários". E recusou ter-se apoderado de qualquer imóvel, tendo pago um milhão de euros ao pai do empresário.
Este caso remete para o de Duarte Lima, também ele advogado e ex- dirigente partidário (PSD), acusado do homicídio da antiga cliente Rosalina Ribeiro depois de um alegado desvio de cinco milhões de euros que justificou como honorários.
Tudo feito de forma profissional
A PJ chegou a suspeitar que a morte do empresário João Paulo Fernandes poderia estar relacionada com dívidas milionárias que este contraiu antes de emigrar para França mas essa hipótese já foi afastada pela investigação, apurou o DN.
O rapto terá sido consumado por dois homens e um terceiro que ia ao volante. Os três usaram gorros na cabeça e luvas e tiveram um comportamento profissional na execução do crime, tendo todos os cuidados para não deixar vestígios biológicos e de ADN.
Os sete detidos, homens com idades entre os 27 e os 41 anos, advogados e empresários, iriam passar a noite de ontem na cadeia anexa às instalações da PJ do Porto, para começarem hoje a ser ouvidos em primeiro interrogatório judicial. A PJ montou ontem a operação "Fireball" para deter os suspeitos dos crimes de sequestro qualificado e homicídio nas cidades de Braga e Porto, em março. Ontem realizaram-se buscas domiciliárias, em escritórios de advogados e estabelecimentos. Cumpriram-se os sete mandados de detenção fora de flagrante delito emitidos pelo Ministério Público-Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Guimarães.
Pedro Grancho Bourbon foi membro da comissão de direitos humanos da Ordem dos Advogados, é pai de dois filhos e até terá presidido a uma associação desportiva em Braga. É secretário-geral do PDR, o partido fundado pelo ex-bastonário dos Advogados, António Marinho Pinto.