Ação popular tenta travar coincineração em Souselas

Advogado Castanheira de Barros pede ao tribunal a anulação da licença ambiental da Cimpor
Publicado a
Atualizado a

A coincineração voltou na quarta-feira aos tribunais, com uma ação popular de Grupo de Cidadãos de Coimbra que, uma vez mais, tenta travar aquela atividade em Souselas.

A ação popular, apresentada pelo advogado Castanheira de Barros, um oponente da coincineração desde a primeira hora, pretende a anulação da licença ambiental que foi concedida à fábrica da Cimpor em Souselas a 10 de dezembro do ano passado. A licença, atribuída pela Agência Portuguesa de Ambiente, substitui a anterior, de 2006, e é válida pelos próximos 10 anos.

Depois de um processo longo e conturbado, que envolveu muita contestação popular e de políticos de vários quadrantes (ver foto, em cima), e ainda inúmeras ações e recursos em tribunal, a coincineração acabou mesmo por avançar na fábrica da Secil, no Outão, e na da Cimpor, em Souselas, em 2009 e 2010, respetivamente. Aconteceu depois de o Supremo Tribunal Administrativo ter decidido anular a suspensão dessa atividade, que tinha sido determinada na sequência de ações cautelares, interpostas, entre outros, pelo Grupo de Cidadãos de Coimbra.

Desde então, a coincineração tem prosseguido sem interrupções, e este mesmo grupo, que teme pela saúde das populações, voltou agora a avançar com a ação popular, que apresentou no Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra.

"Não sendo uma ação cautelar, não tem a virtualidade de suspender" as atividades de coincineração, explicou ao DN o advogado Castanheira de Barros, do Grupo de Cidadãos de Coimbra, notando, no entanto, que não exclui "a possibilidade de interpor, em qualquer altura, uma ação desse tipo".

O grupo decidiu não avançar imediatamente para um procedimento cautelar, porque está a aguardar, "a qualquer momento, a decisão do Tribunal Central Administrativo Norte", referente a um recurso de um acórdão do ano passado, que foi favorável ao ministério do Ambiente e à Cimpor. "Se a decisão nos for favorável, a nossa interpretação é a de que a licença ambiental fica automaticamente anulada", adianta Castanheira de Barros.

A ação popular apresentada na quarta-feira inclui 45 documentos, entre os quais figuram pareceres de médicos e professores universitários, que atestam "a falta de estudos de saúde pública desde 2005", bem como "a ausência de avaliação de impacto ambiental da coincineração em Souselas", diz o advogado.

Citando um estudo de 2005 da Administração Regional de Saúde do Centro, sobre a saúde das populações na região, Castanheira de Barros adianta que a prevalência de doenças respiratórias em Souselas era nessa altura mais do dobro (12,9%), em relação a toda a região (5,8%). "Se na altura era assim, como será agora?", questiona.

Defendida desde 1999, por sucessivos governantes, como a melhor forma de gerir os resíduos industriais perigosos (RIP) em Portugal, a coincineração "só dá resposta a cerca de 16 mil toneladas dos RIP, o que é menos de 10% do seu total anual", explica Rui Berkemeier, especialista em resíduos da Quercus. "A coincineração acabou por não ser a resposta para os resíduos perigosos", nota. Hoje, óleos minerais, solventes e plásticos contaminados, que representam cerca de 27% dos resíduos perigosos, já são reciclados, enquanto as lamas industriais e das ETAR, talvez um pouco mais de metade de todos os RIP, são tratadas para se tornarem inertes e poderem ir para aterro.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt