A forma de Bruxelas contabilizar o défice estrutural para avaliar o esforço orçamental de cada país deve cair, defendem os economistas. É um indicador ambíguo, assente em fórmulas abstratas e que pode induzir as políticas em erro..Foi também isto que Mário Centeno e outros sete ministros das Finanças da zona euro defenderam em carta enviada à Comissão Europeia. Sugerem que Bruxelas deve iniciar um trabalho técnico para uma revisão da fórmula, alterando o período temporal de previsão do PIB potencial, passando-o de dois para quatro anos..Ricardo Paes Mamede, Paula Carvalho, Filipe Garcia e Francisco Louçã acreditam que a questão é complicada. A fórmula é subjetiva, mas dificilmente será alterada. "A resistência de Alemanha, Finlândia ou Áustria é uma das justificações, especialmente depois do investimento de Berlim no Tratado Orçamental", a regra que impõe o limite de 3% do PIB ao défice e de 60% à dívida, alerta Ricardo Paes Mamede. A alternativa passa pela aplicação de um teto máximo à despesa pública, como os economistas do Bruegel defendem. O think tank sugere criar um limite ao crescimento da despesa, equivalente à taxa de crescimento potencial de médio prazo da economia e à inflação. Quando a dívida superasse os 60%, o valor deveria cair 0,02 pontos..Paula Carvalho, economista do BPI, lembra que a despesa varia muito na UE. "No Norte da Europa, as contas públicas costumam ser mais saudáveis, mas não significa que a despesa pública seja menor, pelo contrário." Francisco Louçã diz que "alternativas há muitas", todas difíceis de implementar numa Europa "fechada" a tratados. A melhor solução, defende, é utilizar "o défice nominal como existe" até porque a sua sustentabilidade é variável de acordo com o peso das taxas de juro. Tetos na despesa é algo improvável tendo em conta os gastos de alguns Estados com juros da dívida. Uma coisa é certa: "É preciso vontade política" para alterar "um conceito que é uma fantasia, um joguete ideológico que enviesa as amostras".