O PSD está a tentar digerir o anúncio feito por Assunção Cristas de que a presidente do CDS será candidata à Câmara Municipal de Lisboa (CML). Recusando-lhe apoio, os sociais-democratas procuram acomodar a surpresa do anúncio, antecipando já um resultado menos bom para Assunção Cristas..Em declarações ao DN, o coordenador autárquico do PSD, Carlos Carreiras, afirma que o partido regista a disponibilidade da líder do CDS "avançar de forma normal e serena". E completa: "Não é um drama, nem algo que nos venha prejudicar. Irá beneficiar o futuro executivo municipal da CML com a sua competência, num cenário de acordo pós-eleitoral." Que é como quem diz: Cristas poderá sonhar ser vereadora de um eventual presidente social-democrata. Mas a própria apresentou-se no sábado como "candidata à presidência da Câmara Municipal de Lisboa"..Quem não alinha nesta visão é o antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes, que nota que o avanço da líder centrista "enfraquece o PSD". No seu espaço de comentário na SIC, Marques Mendes é claro na sua leitura: "Esta candidatura é também uma candidatura contra o PSD. É quase um xeque-mate ao PSD. A partir de agora o PSD fica numa situação muito difícil.".Entre dirigentes dos dois partidos, ouvidos pelo DN, a palavra de ordem é desdramatizar. Carlos Carreiras defende que a única surpresa no anúncio "foi quanto ao facto de o anúncio ter sido feito [anteontem]".."No congresso do CDS já se tinha percebido que o partido iria ter uma candidatura própria à CML e nós também já tínhamos definido que iríamos apostar, nos vários municípios, em candidatos do PSD, ou simpatizantes ou até independentes", afirma o coordenador autárquico. Para insistir que apoiar Assunção Cristas "estaria fora de questão", porque "é líder de um partido"..Do lado centrista, Adolfo Mesquita Nunes, insiste que esta "candidatura própria do CDS" - cumprindo a "estratégia aprovada em Congresso e no seguimento de todas as nossas declarações públicas a esse respeito" - "não impede nem prejudica uma relação de proximidade e aliança natural com o PSD, como aliás parece resultar claro das declarações de Passos Coelho". Para o vice-presidente do CDS, "uma estratégia própria de ambos os partidos significa que têm uma estratégia própria, não que têm uma estratégia antagónica ou conflituosa"..Na mesma linha, a própria candidata a Lisboa veio dizer aos jornalistas em Ponte de Lima: "O CDS e o PSD são partidos amigos, são partidos aliados em muitas câmaras municipais, mas naturalmente que temos as nossas estratégias. É natural que assim seja e é bom para a democracia que assim seja.".Calendários diferentes.Há uma linha que separa os dois antigos parceiros de coligação - a do calendário. E ontem Assunção Cristas usou as mesmas palavras de Passos Coelho sobre o ritmo diferente de cada partido. "Manteremos sempre o diálogo, muito construtivo em vários domínios, sabendo que há agendas e calendários próprios. Eu acho que isso é salutar.".Fontes centristas explicaram ao DN que o CDS não podia ficar à espera da resposta do mais desejado pelo PSD - que continua a ser Santana Lopes. Ou havia uma coligação prévia, e aí discutiam-se nomes e tempos, ou os centristas não podiam ficar reféns da estratégia social-democrata, que já tinha feito saber que as eleições autárquicas não são prioridade, quando o CDS já tinha decidido avançar com Cristas..Marques Mendes não encontra vantagens no apoio laranja à líder centrista. "Se apoiar Cristas, o PSD comete suicídio. Vai a reboque do CDS, exibe fraqueza e arranja provavelmente divisões internas." Mas, do outro lado, a solução não será melhor: "Se não apoiar Cristas, dificilmente o PSD consegue ter um candidato vitorioso. É que sem coligação é muito difícil ganhar a Câmara de Lisboa.".Para Mendes, o calendário agora vai atrapalhar ainda mais o PSD: "Se demorar muito tempo a escolher o seu candidato, o PSD ainda se fragiliza mais. É que a partir de agora Cristas começa a consolidar terreno e a conquistar apoios.".No CDS, há quem sublinhe que a existir "tensão", essa é "dentro do PSD" e não entre os dois partidos. "A coisa está mais tensa no PSD e isso acaba por vir bater no CDS." "O PSD nao gostará que o CDS tenha um nome forte", reconhece outra fonte..A candidatura de Assunção Cristas é arriscada, reconhecem fontes centristas. Mesquita Nunes fala em candidatura "corajosa", a líder diz tratar-se de um "exemplo". "O CDS está preparar-se, está a mobilizar-se e está empenhado. Eu própria darei o exemplo para que possamos crescer progressivamente, também no domínio autárquico, porque é importante estar junto das pessoas, do seu dia-a-dia. Essa é a nossa estratégia, é aquela que vamos prosseguir.".Já Fernando Medina escusou-se a comentar a candidatura, com o presidente da Câmara da capital a saudar a eventual adversária. "Neste momento, quero dar uma saudação democrática e dar as boas-vindas ao debate político sobre Lisboa à candidata do CDS, partido que fez a sua escolha nesta altura."