Passos Coelho já com o congresso do PSD na mira
O líder do PSD já se prepara para o congresso do partido em 2018 e as últimas frases do discurso que ontem fez na Festa do Pontal, em Quarteira, revelam-no: "No Pontal daqui a um ano cá estaremos", "cá vamos voltar, em 2018, para dizer ao país o que pensamos", afirmou, aos cerca de dois mil militantes do partido que participaram no jantar-comício.
A um mês e meio das eleições autárquicas, que poderão determinar o seu futuro como líder do PSD, Passos fez um discurso de ataque cerrado à governação e à geringonça - palavra repetida vezes sem fim - e com um elogio raro ao Presidente da República: Marcelo "vetou, e bem" a lei que proíbe a Câmara de Lisboa de concessionar a Carris a privados.
Para o líder laranja, esta lei demonstra bem que a maioria de esquerda vive no "espírito constitucional de 1975" e da "irreversibilidade das nacionalizações". O PS até vai contra o seu próprio passado, nesta matéria: "Só conseguimos ir mais longe porque conseguimos, em tempos extraordinários, contar com um PS que fez duas revisões constitucionais, em 1982 e 1989, primeiro para normalizar a vida política do Estado e do país, e depois para acabar com a irreversibilidade das nacionalizações." Por estar em causa uma questão de "delimitação de setores", o PSD acha que a lei, quando voltar à agenda parlamentar, não poderá ser aprovada só por maioria absoluta. Por outras palavras: o PSD quer ter uma palavra no assunto.
O incêndio de Pedrógão e as suas consequências passaram também pelo discurso do líder do PSD. Passos atacou diretamente a Proteção Civil - "continua a falhar" - mas também o governo, que está, no seu entender, num permanente "passa culpa". O tempo há de chegar, disse, para o PSD atribuir "responsabilidades políticas". Por ora não o faz porque a época de incêndios ainda vai a meio.
As críticas do primeiro-ministro à PT, por causa dos falhanços do SIRESP, mereceram-lhe também referências muito negativas.
Depois de dizer que "o SIRESP tem a cara do primeiro-ministro" porque "foi aprovado por António Costa quando era ministro da Administração Interna", afirmou que as acusações à PT não se relacionam com o funcionamento da rede de emergência das forças de segurança mas sim com o facto de a empresa proprietária da PT, a Altice, ter demonstrado a intenção de "intervir mais fortemente na economia sem ter ido primeiro ao beija-mão do primeiro-ministro".
Um dado novo na intervenção do líder do PSD foi um forte ataque à nova Lei da Nacionalidade, que regula como se podem autorizar imigrantes a viver em Portugal (e como se pode expulsá-los).
"O que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se se mantiver esta possibilidade de qualquer um viver em Portugal?", perguntou Passos Coelho, depois de recordar que a um estrangeiro bastará invocar a "promessa" de um contrato de trabalho em Portugal para obter direito de residência. É que, acrescentou, além do mais, segundo a nova lei, o Estado "deixa de poder expulsar alguém que cometeu crimes graves".
Geringonça "esgotada"
Tal como no ano passado, o líder do PSD insistiu na ideia de que "a geringonça está no imobilismo em relação ao futuro", isto é "está esgotada" e vive na "preferência pela estatização e pela coletivização". "Temos um país adiado do ponto de vista estrutural e cativado do ponto de vista orçamental" e tudo aponta para que, se os próximos dois anos correrem como os primeiros dois deste governo, se tenha "perdido uma legislatura a viver à conta do que se fez no passado".
Ressalvando não quer ter "uma visão negra do futuro", Passos acrescentou, porém, que "o futuro negro que já tivemos no passado teve origem em governos socialistas" como o atual, que também "não gostavam de ser criticados". O PSD, pelo seu lado, acrescentou, "não se junta à festa" e recusa todos os apelos nesse sentido, porque acha que "a vontade de o governo mudar qualquer coisa não está nas intenções de quem governa" e "quem governa hoje - aquilo a que se chama a geringonça - não tem espírito reformista".