"Número de novos médicos é alto, o dobro dos aposentados"

Entrevista a José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos
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Só no passado saíram mais de 900 médicos para a reforma ou para trabalhar noutros países. A formação de novos médicos compensa estas saídas?

A emigração voltou a aumentar em 2015 e os médicos de família chegaram a representar um terço, como aconteceu no Norte. Mesmo que haja uma estabilização das saídas, é natural que saiam cada vez mais para fazer a especialidade lá fora, porque o número de novos médicos é muito alto. É o dobro dos reformados. Estamos a formar muitos médicos e não os vamos conseguir colocar todos.

O que tem motivado as saídas dos últimos anos?

Desde logo, as dificuldades em contratar, os atrasos nas colocações, a degradação das condições de trabalho, como acontece nas urgências, em que há uma sobrecarga de horas numa resposta muito complexa, de risco, e em que os pagamentos têm sido muito superiores às empresas, quando os médicos recebem líquidos oito euros por hora. As baixas remunerações, que são muito mais atrativas lá fora, e os concursos pouco transparentes e diferentes de unidade para unidade são fatores de desmotivação.

Quais os riscos do excesso da formação?

Não há nenhuma área em que não haja excesso. Com as atuais saídas, que superam largamente as mil por ano, haverá um terço que não vai ter emprego. Se quiserem mercantilizar a saúde, é uma boa opção continuar a formar tantos médicos.

A proposta de pagar até um salário além da pensão vai trazer muitos médicos para o SNS?

É uma medida que sempre defendemos. O que se estava a pagar não compensava o regresso. Afinal, estes médicos fazem o mesmo trabalho do que os restantes especialistas que já lá estão. E os médicos de família podem ter listas de utentes para dar resposta.

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