O ministro da Saúde admitiu hoje que a reposição das 35 horas de trabalho semanais na função pública pode levar a um aumento de custos no setor e à necessidade de recrutar profissionais.."No setor da saúde é admissível que comporte um acréscimo de custos", declarou Adalberto Campos Fernandes aos jornalistas no final de um debate parlamentar sobre saúde, lembrando que o trabalho na área se desenvolve baseado em turnos..O ministro admite que nalgumas instituições possa ser necessário recrutar profissionais, nomeadamente enfermeiros, mas quanto aos impactos concretos da reposição das 35 horas disse que a resposta será dada no momento em que se souber quando a lei entrará em vigor.."Ser aplicada em junho não é o mesmo que ser aplicada em maio", declarou..A reposição das 35 horas de trabalho semanais na função pública dominou o debate parlamentar de hoje, com PSD e CDS a questionarem PS e Governo sobre os eventuais efeitos desta medida na área da saúde..O ministro das Finanças, Mário Centeno, havia afirmado que a redução do horário de trabalho em funções públicas deverá fazer-se sem custos adicionais para o Estado..A deputada social-democrata Fátima Ramos questionou os socialistas, que agendaram o debate temático de hoje no plenário da Assembleia da República, sobre a existência ou não de um "plano para salvaguardar o interesse das pessoas, não prejudicando os doentes", com a reposição das 35 horas de trabalho semanais..Também a deputada do CDS Isabel Galriça Neto expressou ao ministro da Saúde, presente no parlamento, a preocupação com o eventual impacto do regresso às 35 horas na área da saúde.."O que vai fazer para repor as 35 horas? Qual vai ser a fatura a pagar para o Serviço Nacional de Saúde (SNS)", questionou..Durante o debate, o ministro Adalberto Campos Fernandes não respondeu à questão e não aludiu à reposição das 35 horas de trabalho, tendo-o feito no final, em declarações aos jornalistas..Durante o debate, PS, PCP e Bloco de Esquerda sublinharam o enfraquecimento do serviço público de saúde e a diminuição da acessibilidade durante os quatro anos de governação do anterior Executivo PSD/CDS.."No afã de cortar nos números, o governo de direita esqueceu-se das pessoas", afirmou a socialista Luísa Salgueiro, na abertura do debate temático..A deputada do PS acusou ainda o anterior governo de ter permitido que o SNS desbaratasse em quatro anos "o seu capital mais valioso: os profissionais"..Aliás, para o PS, este é um dos maiores desafios que o atual Governo tem para enfrentar na saúde: "trazer de volta ao setor público os melhores profissionais"..Também o PCP se centrou nos recursos humanos nos serviços de saúde, destacando a "carência gritante de profissionais".."Foram anos muito negativos para o SNS em todos os domínios", declarou a comunista Carla Cruz, aludindo em especial ao que considera ser o ataque feito aos profissionais..O deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira afirmou que os cortes feitos nos quatro anos de governação PSD/CDS "foram cegos e que destruíram o SNS e a sua capacidade de resposta"..Na mesma linha, o Partido Ecologista Os Verdes classificou igualmente como cortes cegos as restrições orçamentais impostas pelo anterior Executivo na área da saúde..Durante o debate, o PSD chegou a acusar o ministro da Saúde de pretender cortar 48 milhões de euros nas urgências hospitalares, pedindo a Adalberto Campos Fernandes que esclarecesse de que forma pretende fazê-lo..Em resposta, o ministro garantiu nunca ter dito que pretendia cortar esse montante nas urgências, mas antes que uma redução de 10% de episódios, como o Governo pretende conseguir através de uma aposta nos cuidados primários, equivaleria a uma poupança anual de 48 milhões de euros..Sobre os quatro anos de governação PSD/CDS, Campos Fernandes considerou que o SNS não foi defendido, comprometendo-se a reconstruí-lo. Para o ministro, é possível, com o mesmo orçamento ou ligeiramente superior, ter uma "visão mais humana e mais próxima das pessoas".