Marcelo Rebelo de Sousa fará uma visita de Estado a Moçambique após as comemorações do 25 de abril, apurou o DN junto de fonte próxima do Presidente. A viagem do chefe de Estado - que acontecerá já após ir ao Vaticano e a Espanha, no dia 17 de março - marca a aposta de Marcelo na política externa e, em particular, no estreitar de relações com a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP)..A ida a Moçambique será agora concertada com o executivo de António Costa. Já na quarta-feira o presidente moçambicano, Filipe Nyusi -um dos dois chefes de Estado presentes na tomada de posse de Marcelo - tinha revelado ter convidado Marcelo a visitar o país. A ligação do Presidente português ao país vem do pai, Baltazar Rebelo de Sousa, que viveu em Moçambique e foi governador-geral da então colónia portuguesa entre 1968 e 1970..[artigo:5071334].Marcelo destacou, aliás, ontem - na apresentação de cumprimentos com o corpo diplomático - que quer prosseguir a tradição de manter uma "relação de colaboração frutuosa" com Governo e o Parlamento para ir "mais longe" na ação externa, lembrando a tradição de "política de consenso e de continuidade" nessa área..Neste ponto a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa é uma prioridade para Marcelo. E sobre essa prioridade já falou, quer com António Costa, quer com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ainda como Presidente eleito, no Palácio Queluz..A prioridade da política externa do Presidente encaixa assim na do governo, que definiu também a CPLP como prioridade. A primeira visita oficial de António Costa foi precisamente a Cabo Verde, onde defendeu a livre circulação de pessoas e a residência entre os países da CPLP. "Portugal tem toda a liberdade de negociar com os restantes países da CPLP tratados de liberdade de residência e deve-o fazer", disse Costa em janeiro..Voltando a Marcelo este lembrou precisamente a "tradição e harmonia e colaboração frutuosa entre Presidente da República, Assembleia da República e Governo (...), sempre estivemos juntos"..E, neste ponto, Moçambique surge como um destino natural. No próprio discurso de posse, Marcelo destacou a "vontade de construir um novo futuro assente numa eloquente e calorosa fraternidade, e comunidade de destino, na pessoa de sua excelência o Presidente Filipe Nyusi.".Marcelo até se encontrou com Nyusi no dia da posse e a cumplicidade entre ambos foi evidente. Nyusi é presidente desde janeiro de 2015 e tem também investido num aprofundar de relações com Portugal, país que foi destino da sua primeira visita oficial fora de África..Em julho de 2015, Nyusi também sentou à mesa os 12 maiores investidores nacionais no país- Millennium BCP, Novobanco, CGD, Mota-Engil, Teixeira Duarte, Soares da Costa, Galp, Entreposto, Portucel, JFS, Visabeira e Contact -e chamou-lhes "campeões na promoção do investimento em Moçambique"..Portugal é, aliás, o terceiro país que mais investe em Moçambique. De acordo com dados do INE, as exportações para aquele país quase quintiplicaram: cresceram de 64,7 milhões em 2005 para 318,4 milhões em 2014..A ideia de Marcelo, apurou o DN, é aproveitar o facto do Brasil e Angola estarem em crise para Portugal voltar a afirmar a sua força como potência na CPLP (o secretário-geral é moçambicano)..Além de Cabo Verde (onde foi Costa) e Moçambique (onde vai Marcelo), Angola também é uma prioridade para Marcelo, nomeadamente pela preocupação quanto aos efeitos que a crise no país pode ter em Portugal..O Presidente da República já se reuniu - ainda como presidente eleito - com a empresária Isabel dos Santos, e com o presidente do banco angolano BIC, Fernando Teles. O Banco Central Europeu (BCE) tem pressionado, desde novembro de 2014, para que a banca portuguesa abdique das participações em Angola. A reunião com estas duas figuras está relacionada com o facto de ser o BPI que está a ter mais problemas..Isabel dos Santos travou (com a ajuda dos estatutos) a cisão com os negócios de Angola, enquanto o BCE ameaça com uma multa diária enquanto esse corte não existir. Isto mesmo contra a vontade do maior acionista: o Caixabank..Além da CPLP, Marcelo quer promover o grupo de Arraiolos (reúne chefes de Estado da Europa sem poder executivo) e até promover o alargamento deste grupo e também investir na candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU. Ontem disse que a candidatura de Guterres "é uma candidatura a favor de todos, congregadora, baseada no extraordinário mérito do candidato e assente na certeza de que, caso seja eleito, António Guterres será um brilhante secretário-geral da ONU". Ele é "o vulto mais brilhante da minha geração".."Não muda a política externa".Sendo um dos portugueses mais conhecidos em Portugal, Marcelo procura agora reconhecimento internacional. Na sua agenda diplomática deste ano já c onsta a participação em várias reuniões multilaterais: na cimeira da CPLP convocada para Julho, em Brasilia; numa reunião do Grupo de Arraiolos (grupo de presidentes da UE sem funções executivas) marcada para setembro, em Sófia, Bulgária; na cimeira ibero-americana que se realizará em outubro na Colômbia; numa reunião da COTEC (uma associação empresarial para a inovação) em Espanha..Ontem o Presidente da República recebeu no Palácio da Ajuda o corpo diplomático representado em Lisboa. Num momento em que Portugal tem um governo apoiado em partidos anti-UE , Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que a "aposta" do país na UE deve prosseguir "de forma resoluta e sem hesitações". "Mudam os governos, mudam os presidentes mas não muda a política externa", avisou.