Marcelo usado em vídeo de propaganda do Daesh

Imagem de Marcelo a condecorar o rei de Marrocos mostrada em seminário sobre comunicação no contexto de terrorismo, com os chefes máximos das secretas
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Uma fotografia do Presidente da República foi utilizada num vídeo de propaganda do autoproclamado Estado Islâmico. Na imagem, Marcelo Rebelo de Sousa está com o rei de Marrocos, Mohammed VI, e foi tirada em junho último quando o Chefe do Estado português condecorou o monarca com a Ordem de Santiago, durante uma visita àquele país. No vídeo, Marcelo é apelidado de "infiel" e Maomé VI de "muçulmano sem vergonha".

O caso foi ontem publicamente revelado por Nuno Rogeiro, comentador político e perito em assuntos de segurança internacional, num seminário sobre "Estratégias de comunicação em contexto de terrorismo", que contou com a presença dos mais altos dirigentes das secretas portuguesas e estrangeiras. Na sua intervenção, Nuno Rogeiro mostrou vários exemplos da utilização da internet, através das redes sociais e de sites, por parte dos movimentos jihadistas que produzem, segundo afirmou, "90 mil mensagens por dia".

Fonte oficial de Belém confirmou ao DN ter tido conhecimento do caso, mas absteve-se de comentar. "As autoridades competentes tomaram conta do assunto", sublinhou o porta-voz de Marcelo. Ao que o DN apurou, a situação foi avaliada pelos serviços de informações, aos quais compete a análise de ameaça sobre as altas individualidades, e foi concluído que o "alvo" dos terroristas não era o Presidente português, mas sim o rei de Marrocos.

O filme chama-se Geração do Califado e, contou o analista na sua página do Facebook, "procura mostrar que a juventude do Daesh é bem formada, bem preparada em escolas e mesquitas e tem uma moral superior à dos jovens de países árabes e islâmicos "corruptos"". A certa altura, conta Rogeiro, "começa uma longa litania contra os dirigentes pseudoislâmicos que se vergam ao Ocidente e são seus serventes". E é nesse momento que surge o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o rei de Marrocos. Uma lupa é colocada sobre o peito deste, para mostrar a mais alta condecoração portuguesa dada pelo PR ao soberano e uma voz off refere que vários "líderes ditos muçulmanos não têm vergonha de mostrar prémios e condecorações dados por infiéis, como mostra a imagem". E conclui: "O verdadeiro islão não esquecerá estes atos."

De acordo com Rogeiro, "o filme é originário de um estúdio do Dito Estado Dito Islâmico", localizado na zona síria de Deir Ez-Zour, onde se encontram alguns recursos petrolíferos do grupo terrorista e o "controlo ideológico do seu conteúdo foi assegurado por uma divisão criada por um combatente de origem líbia, Abu-Naisa al Libi, cuja morte já foi anunciada várias vezes".

Portugal: segredos do sucesso

Apesar das preocupações salientadas pelos chefes das secretas em relação à poderosa máquina de propaganda jihadista e à sua eficácia na radicalização de milhares de jovens europeus, o diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS) avançou que "em Portugal os casos identificados de radicalização são minoritários e a dimensão do problema não é comparável ao de alguns países europeus". Neiva da Cruz referiu que "as redes sociais e plataformas digitais controladas e rastreadas pelo Daesh cobrem bastantes línguas europeias, incluindo o português".

Mas qual o segredo da peculiaridade portuguesa em matéria de terrorismo? Segundo este chefe das secretas, isso deve-se a três fatores: "O primeiro são as políticas públicas de integração social, que impedem o enraizamento em guetos, onde normalmente as relações familiares e de vizinhança são fatores preponderantes na radicalização. O segundo são as próprias características da comunidade islâmica nacional, pela sua integração na sociedade, pela atitude cooperante das suas lideranças com as entidades nacionais. O terceiro é a coordenação entre as organizações da sociedade civil, serviços de informações e forças de segurança."

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