Marcelo relembra a Merkel "sacrifícios" dos portugueses

Presidente da República chegou ontem a Berlim para visita de dois dias. Hoje vai dizer à chanceler alemã que considera injustas eventuais sanções a Portugal por violação do défice.
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Talvez o pequeno pedaço do Muro de Berlim, que guarda em casa, o tenha ajudado a preparar as palavras que quer dirigir hoje à chanceler alemã Angela Merkel. O Presidente da República vai falar de liberdade, sim, mas de uma liberdade económica, que permita a Portugal não pagar eventuais sanções por incumprimento do défice em 2015.

Para Marcelo Rebelo de Sousa - que chegou ontem a Berlim para dois dias de visita oficial - os portugueses "fizeram sacrifícios, no sentido de se cumprirem os compromissos europeus. A governação anterior seguiu, o mais à risca que entendeu, aquilo que eram esses compromissos (...). Por essas e outras razões a sanção parece-me injusta."

O apelo vai ser feito à chanceler alemã, mas o Presidente da República não espera ouvir uma resposta imediata. "É preciso não confundir a competência dos órgãos europeus com o papel dos Estados. É muito importante que Portugal perceba o que se passa na Alemanha, e a Alemanha em Portugal. Mas há decisões que pertencem aos órgãos europeus. Seria uma indelicadeza para a Comissão, para os comissários europeus e até para o Conselho Europeu estar a antecipar aquilo que vai ser uma decisão ao nível europeu."

Para ajudar a entender ainda melhor que os sacrifícios estão a dar resultado em Portugal, o Chefe do Estado português leva para a reunião com a chanceler alemã "boas notícias".

Apesar de não falar diretamente das previsões do governo, Marcelo Rebelo de Sousa quis sublinhar que a execução orçamental, relativamente ao mês de abril, "dá um resultado apreciavelmente simpático no sentido de que há uma contenção das despesas e uma subida do saldo primário. Esqueçamos a amortização de um empréstimo contraído em 2015".

Fora da conversa com os jornalistas ficaram possíveis medidas adicionais ou a possibilidade de um Orçamento Retificativo a apresentar na Assembleia da República.

Nem mesmo a referência às palavras do ministro das Finanças alemão alteram as do Presidente da República. Wolfgang Schäuble opôs-se ao adiamento das sanções a Portugal e a Espanha, mas Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a entrar em questões de política alemã: "Não queria comentar as declarações de um governante alemão."

Mais pormenores das conversas que irá ter com a chanceler alemã ou com o Presidente da República Federal, Joachim Gauck, só serão conhecidos depois.

Mesmo sobre temas como os da capitalização da Caixa Geral de Depósitos ou uma eventual venda do Novo Banco ao Millennium BCP, Marcelo Rebelo de Sousa revelou apenas que a "Alemanha é um parceiro económico muito importante para Portugal: o terceiro destino das nossas exportações, o segundo grande fornecedor da económica portuguesa e um grande investidor direto no nosso país".

Por isso, o Chefe do Estado acredita que a Alemanha está interessada na estabilidade do sistema financeiro português. "O reforço contínuo do sistema financeiro é bom para Portugal mas também para a Alemanha."

O Presidente da República chegou ontem ao final da tarde à capital alemã e encontrou-se com a comunidade portuguesa residente naquela país. Foi à margem deste encontro que falou aos jornalistas e à hora do fecho desta edição ainda decorria o jantar oferecido na residência oficial do embaixador de Portugal na Alemanha.

Berlim

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