Marcelo e Costa. Reuniões semanais vão continuar on the road

Pela segunda vez em dois meses de mandato do Presidente da República, a reunião com o primeiro-ministro não se realizou no palco tradicional, em Belém. No tempo de Cavaco Silva e Passos Coelho tal nunca aconteceu
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Foram já duas vezes, desde que Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse, que a reunião semanal entre o Presidente da República e o primeiro-ministro se realizou fora do Palácio de Belém, quebrando a tradição. Há três semanas foi em Évora, com Costa a ter de adaptar a sua agenda e como foi notado por alguma imprensa local, ter sido obrigado a antecipar a sua visita à feira Ovibeja, aproveitando a deslocação ao Alentejo. Ontem o encontro das quintas-feiras foi no Porto, mas ambos estavam naquela cidade para uma inauguração.

Uma coisa é certa. É uma nova era na relação entre Belém e S.Bento. Com Cavaco Silva e Passos Coelho os encontros realizavam-se religiosamente na salinha de audiências do Palácio, não havendo registo de alterações de local. "O máximo que aconteceu foi, por vezes, por questões de agenda do primeiro-ministro, ter de se antecipar o adiar a reunião para outro dia", recorda um ex-colaborador.

Fontes de ambos os gabinetes, de Marcelo e Costa, estão em sintonia na desdramatização desta coabitação on the road e destacam o "pragmatismo" dos dois líderes para justificar a inovação. "Obviamente que é tudo articulado entre os gabinetes. Não há qualquer cedência de uma agenda a outra, nem ninguém anda atrás de ninguém", sublinha o porta-voz de Marcelo. "Há de até acontecer mais vezes", afirma, lembrando que a próxima saída do Presidente para fora de Lisboa, no âmbito da iniciativa "Portugal Próximo", será em julho, no distrito de Trás-os Montes. "Se calhar estarem ambos perto na quinta-feira, o dia da reunião semanal, por que não conciliar?".

Há ainda outra imagem que as fontes de ambos os gabinetes querem fazer passar, até para desvalorizar qualquer interpretação política que possa surgir sobre quem cede e quem impõe: com estes encontros fora de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa dão um sinal de descentralização e de maior proximidade à população do resto do país. De resto uma "bandeira" que quer o governo que o Presidente da República têm promovido.

Na reunião de Évora, que se realizou às nove da manhã numa sala de hotel na agenda estavam o Plano Nacional de Reforma e o Plano de estabilidade, aprovados na véspera em Conselho de Ministros. Em declarações aos jornalistas Costa disse que se tinha tratado de "uma reunião normal de trabalho, como as que se realizam semanalmente em Belém". No final, a expressão utilizada por ambos foi de "otimismo" em relação às ideias que o executivo iria apresentar a Bruxelas. "A relação entre ambos é boa, ágil e pragmática", garante fonte próxima.

Esta quinta-feira, nem se quer houve problema de quem iria ao encontro de quem. Tanto Marcelo como Costa estavam convidados para a inauguração do edifício-sede do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), da Universidade do Porto.

Nada mais prático que aproveitar e realizar na segunda maior cidade do país, a regular reunião semanal. O palco foi a histórica biblioteca do Palácio da Bolsa. Foi notória a cumplicidade entre ambos, partilhada até pelo presidente da Câmara, Rui Moreira (ver foto). Marcelo até brincou com o "otimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante" que considerou habitual no primeiro-ministro. O Presidente reviu-se nesse "otimismo" quando enalteceu o "momento histórico" que representou, no seu entender, a inauguração do edifício i3S.

António Costa sublinhou que "o I3S é um exemplo paradigmático da centralidade da ciência e do conhecimento como motor de progresso e desenvolvimento do país". E acrescentou: "O I3S vem mostrar que o património do conhecimento científico representa o maior ativo de que a sociedade portuguesa dispõe para responder aos desafios sociais, económicos e ambientais da próxima década".

A reunião entre ambos ainda decorria à hora do fecho desta edição, não estando previstas declarações.

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