A iniciativa partiu da Itália. O primeiro-ministro, Matteo Renzi, e o seu ministro das Finanças, Pier Carlo Padoan, quiseram dinamizar uma espécie de manifesto entre países da zona euro - ao qual o governo português se associou através do ministro das Finanças, Mário Centeno - que propusesse à Comissão Europeia e ao presidente do Eurogrupo um modo diferente de cálculo do PIB potencial. Este é o índice económico em função do qual se calcula um outro de importância maior no quadro do Tratado Orçamental, o saldo estrutural..[artigo:5104065].Para dar mais eficácia ao documento, o governo italiano, do Partido Democrático (partido homólogo do PS português, pertencendo ambos ao Partido Socialista Europeu, a segunda maior força no Parlamento Europeu), procurou que o documento não refletisse lógicas geográficas claras. Ou seja, evitou, por exemplo, que fosse visto como um manifesto dos países do Sul da Europa contra os do Norte. E foi isso que conseguiu. Dos oitos ministros subscritores, três são latinos (Itália, Espanha e Portugal), dois bálticos (Letónia e Lituânia), dois do antigo Leste Europeu (Eslovénia e Eslováquia) e um pequeno estado central, o Luxemburgo, de onde vem o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker..Os dinamizadores da iniciativa procuraram, por outro lado, que o documento fosse nos seus subscritores politicamente transversal às principais forças europeias - de forma a não ser lido, por exemplo, como um texto da esquerda contra a direita ou vice-versa. Por isso há assinaturas de quatro países governados por partidos do Partido Socialista Europeu (a própria Itália, além de Portugal, a Eslováquia e a Lituânia), outros governados por partidos que pertencem no Parlamento Europeu à família liberal (Eslovénia, Letónia e Luxemburgo) e ainda um da maior família europeia - aquela em que estão o PSD e o CDS -, o PPE (Espanha). Procurou-se também, por último, diversidade nas situações orçamentais dos países dos ministros que assinaram o documento. Tanto lá estão ministros das Finanças de países com défices nominais muito elevados como outros perfeitamente enquadrados pelas balizas do Tratado Orçamental (ver texto em baixo). Obedecendo a estas três exigências - diversidade política, diversidade económica e diversidade geográfica -, os ministros assinaram um texto no qual pedem que o PIB potencial de cada país seja calculado não tendo em conta a evolução esperada num ciclo de dois anos (como faz Bruxelas) mas sim em ciclos de quatro anos (como fazem os Estados membros). Isto, diz o texto, produz "discrepâncias substantivas nos balanços estruturais" entre os números obtidos pela UE e pelos país, gerando "confusão" na forma como se avalia se cada um está ou não a cumprir as exigências do Tratado Orçamental..Para o eurodeputado socialista Carlos Zorrinho, esta iniciativa "faz todo o sentido", uma vez que a Europa não tem um problema de liquidez, tem um problema de regras de aplicação dos recursos disponíveis". "Essas regras induzem menor dinâmica de investimento e de aposta na economia real dos diferentes países, fazendo que a UE (...) atravesse um largo período de estagnação, com reduzido crescimento", considera o eurodeputado. Para Marisa Matias, do BE, "a única regra que existe é a arbitrariedade, e o défice estrutural apenas serve para impor as reformas estruturais e alimentar austeridade". Por essa razão, Bruxelas "deveria acabar com o cálculo do défice estrutural". Mas sem o apoio de governos como o francês ou o alemão, Zorrinho vê o caminho mais longo até que se consiga "reforçar as posições políticas que levem a alguma abertura de países como a Alemanha e, nessa altura, França irá atrás". Com João Francisco Guerreiro