"Perplexo!" foi o adjetivo escolhido pelo deputado do Bloco de Esquerda (BE), José Manuel Pureza, para classificar os dados avançados pela ministra da Administração Interna sobre imigrantes ilegais que pediram ao SEF autorizações de residência. Constança Urbano de Sousa avançou, na audição parlamentar desta semana, que estavam registados no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) perto de 3500 processos para legalizações extraordinárias. Ou seja para imigrantes enquadrados no mercado de trabalho, com descontos para a segurança social e entrada regular na União Europeia, ao abrigo do artigo 88 ou 89 da Lei de Estrangeiros, o SEF pode conceder, a título excecional, autorização de residência. Ao todo, clarificou ao DN, posteriormente, o gabinete da governante, há 1913 "manifestações de interesse" já agendadas, por cumprirem os requisitos legais, e 1457 em "fase de agendamento", num total de 3370..Os números fizeram soar as campainhas dos bloquistas, que têm estado ao lado das associações de imigrantes nas manifestações de protesto que reivindicam a legalização de 30 mil imigrantes os quais, alegam, estão há anos em Portugal a trabalhar e a descontar. "Não sei que contas são as da Sra.Ministra. Fiquei perplexo. Vamos ter que perguntar Sra.Ministra como chegou aqueles números. Aquilo que nos dizem as associações de imigrantes, como base em testemunhos diários e em processos que acompanhar é que são na casa das dezenas de milhar, perto de 30 mil. Este número nunca tinha sido posto em causa e agora é preciso que se esclareça esta discrepância o mais rapidamente possível, pois não é nada saudável estarmos a trabalhar com bases diferentes. Não ajuda à resolução dos problemas", afirma José Manuel Pureza..O gabinete de Constança Urbano de Sousa "não comenta" os valores apresentados pelas associações e pelo BE. Explica que "não são contabilizados como pendências os processos que fora registados na plataforma, mas ainda não foram objeto de tratamento" pelo SEF. Ou seja, assinala fonte oficial "quando as associações de referem aos 30 mil podem estar a incluir aqueles que o SEF decidiu não prosseguir com o procedimento por falta, por exemplo, da entrada regular"..A Associação Solidariedade Imigrante, a mais representativa e que tem promovido as manifestações, tem uma explicação para a discrepância: "Os que o SEF refere são aqueles que, no seu entender, têm condições para avançar, mas há milhares de muito outros que trabalham em Portugal e é-lhes negado o direito de ficar em Portugal", reclama o presidente da Associação, Timóteo Macedo. Alerta para os "milhares de indeferimentos" e para a "forma encapotada de expulsar imigrantes que está a ser protagonizada pelo SEF", serviço que acusa de estar a fazer "uma interpretação abusiva, ilegal e autoritária" da legislação..O SEF alega, por seu lado, que estão em causa "situações que requerem uma abordagem complexa e casuística" e que resultaram da "prática derrogatória do requisito de entrada regular, que ocorreu em 2015". Fonte oficial desta polícia salienta que "o SEF tem procurado olhar para este problema com uma atitude humanista e construtiva", ajudando até a "recolher provas" que permitam preencher esse requisito "que havia sido dispensado na prática anterior".