Só depois de ser entregue na Assembleia da República, na sexta-feira, é que a proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2016 poderá refletir no seu conteúdo mexidas mais profundas resultantes das negociações que estão a decorrer com a Comissão Europeia (e que estavam para terminar hoje mas só terminarão na mesma sexta-feira, já com o documento nas mãos dos deputados)..Ontem, o governo do PS reuniu-se com os seus parceiros da esquerda, apresentando um pacote de medidas que visam aproximar o documento das pretensões de Bruxelas - em particular no que respeita ao défice estrutural, onde o caminho para a convergência se afigura mais estreito. António Costa terá cedido à exigência da Comissão em acelerar a redução dos défices nominal e estrutural, respetivamente para 2,4 em vez dos 2,6 e em 0,4 em vez dos 0,2 inicialmente previstos. O executivo acenou com um aumento da receita na ordem dos 500 milhões de euros, mas Bruxelas quererá que o esforço seja a duplicar..Em síntese, a equipa governamental que se sentou à mesa, no Parlamento, com BE e PCP apresentou três mudanças substantivas em relação ao draft orçamental que foi enviado para Bruxelas: aumento da contribuição do setor bancário, agravamento do imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP) - esta acentuada face ao esboço de OE que o governo tinha feito - e ainda um acréscimo sobre o imposto sobre veículos (ISV)..[artigo:5011797].À esquerda não existem objeções de maior a essas mudanças - as linhas vermelhas estavam há muito traçadas por bloquistas e comunistas -, até porque nenhuma das medidas incide sobre os rendimentos do trabalho ou sobre bens essenciais..Nas reuniões, o governo fez-se representar pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, e por secretários de Estado do Ministério das Finanças, ao passo que as equipas negociais do BE e do PCP foram encabeçadas pelos respetivos líderes parlamentares, Pedro Filipe Soares e João Oliveira..[destaque:Ministro das Finanças explica hoje negociações às bancadas parlamentares].De resto, nos encontros, o executivo deixou uma garantia que, por si, constitui um sinal de que Lisboa não se submeterá a todo o custo às pressões vindas da Comissão Europeia: amanhã, aconteça o que acontecer, o OE será aprovado em Conselho de Ministros e na sexta-feira estará no Parlamento. Mesmo que as negociações não estejam fechadas com a Comissão. BE e PCP gostaram do que ouviram. Num outro momento, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiro, assegurou que a proposta irá corresponder aos "compromissos políticos" do governo, significando isto o "retomar do caminho do crescimento económico". Hoje, o ministro das Finanças estará pelas 08.30 na Assembleia da República para uma série de reuniões separadas com as várias bancadas, ao abrigo de um direito regimental de consulta prévia..Para manter a despesa dentro de limites aceitáveis, o governo tenciona continuar a manter congeladas as progressões nas carreiras da função pública. Joga também com questões de contabilização de medidas. No IRC não houve diminuição da receita em 2015, mas o executivo considera que haverá em 2016 e não quer que o efeito seja todo contabilizado neste ano (não quer que sejam contabilizadas em 2016 medidas que são efeito da reforma do IRC de 2015 feita pelo anterior governo)..O executivo pretende que o esboço de OE 2016 vá ao Eurogrupo, dia 11, já com luz verde da Comissão. Mas se não conseguir, então Costa apostará na cimeira europeia de 18 e 19, em Bruxelas.