Europa: Marcelo e Belém alinhados com Costa, os outros querem mais

Professor e ex-ministra defendem cumprimento das metas e dos tratados. Nóvoa e Marisa contestam imposições de Bruxelas e querem outro rumo. Edgar acredita na recuperação dos instrumentos de soberania
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O DN desafiou os cinco principais candidatos às presidenciais a responderem a um conjunto de temas relevantes para o país. Temas que os vão acompanhar nos 12 dias da campanha eleitoral, que ontem começou oficialmente. Arrancamos com a visão que Marcelo Rebelo de Sousa, Maria de Belém, António Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Edgar Silva têm sobre a relação que Portugal deve manter com os parceiros europeus. A de bom aluno ou de aliado rebelde? Os candidatos falam também do futuro da União Europeia e dos problemas que o governo deverá levar para a as negociações em Bruxelas.

Marcelo Rebelo de Sousa

Sintonia com Costa: "Não falhar as metas" mas "flexibilizá-las"

Marcelo Rebelo de Sousa está de acordo com a estratégia definida por António Costa. Questionado pelo DN sobre qual deve ser a relação de Portugal com Bruxelas, o candidato diz que deve ser "como o atual governo definiu para este momento: cumprir as obrigações existentes e contribuir em, conjunto com outros estados e outros governos, para a reponderação dessas regras".

Para Marcelo essas regras comunitárias "merecem reajustamento, quer em função dos objetivos essenciais da integração europeia, quer como consequência da necessidade de criar condições para crescimento, emprego e mais justiça social". Ou seja: o candidato recomendado por PSD e CDS sugere que o país continue a não falhar as metas junto de Bruxelas mas também que deve tentar flexibilizá-las em nome do interesse nacional.

Maria de Belém

"Relação com a UE deve ser de igual para igual"

Maria de Belém não tem dúvidas de que o comportamento do país no quadro comunitário deve visar a "defesa dos seus interesses", mas é contundente ao frisar que "a relação de Portugal com a UE deve ser de igual para igual, no cumprimento dos tratados". "É isso que todos os países fazem", aponta.

"Nós devemos buscar um caminho de desenvolvimento. E nos programas estratégicos da UE um dos objetivos principal é reduzir as assimetrias de desenvolvimento entre os vários países", prossegue a candidata, que defende um "um caminho para a redução das nossas assimetrias".

"É importante que Portugal use os objetivos estratégicos da UE ao serviço daquilo que são os seus próprios interesses", remata.

António Sampaio da Nóvoa

"Europeísta convicto" mas crítico da postura do "bom aluno"

"Sou um europeísta convicto, mas não é esta Europa pela qual nos batemos, não é esta a Europa do Estado Social, da solidariedade, progressista e humanista. A relação de Portugal com a Europa tem que mudar face à linha seguida nos últimos anos." É esta a síntese de António Sampaio da Nóvoa sobre a postura que Portugal deve ter em relação a Bruxelas.

"Como professor", assinala ao DN o ex-reitor da Universidade de Lisboa, "sempre considerei que o bom aluno não é aquele que cumpre acriticamente e sem questionar o que lhe pedem, mas o que pensa por si, questiona, participa e tem espírito crítico construtivo". Assim, o candidato que conta com os apoios de três ex-chefes de Estado, Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, sublinha que "temos de ter uma voz mais forte, mais ativa, mais construtiva e que seja tida em conta."

Marisa Matias

A recusa de "pactuar com a humilhação do país"

Marisa Matias puxa da experiência como eurodeputada - diz conhecer o país "por dentro e a partir de fora" - para vincar que não quer seguir o caminho de "transformação" que tem estado em curso na UE.

"Serei uma Presidente que não irá pactuar com a humilhação do país, porque isso é negar uma das competências mais fundamentais, que é de ser o garante da independência nacional. Sei que na Europa a regra é a da negociação e do compromisso, mas também que a negociação facilmente se transforma em imposição sempre que não se obedece aos ditames dos mercados contra o Estado Social", diz.

Assim, a candidata apoiada pelo BE realça que "lamentavelmente" tem "faltado firmeza" ao país na defesa desses princípios nas negociações com Bruxelas e sentencia: "Isso tem que mudar."

Edgar Silva

Recuperar os instrumentos de soberania rumo ao progresso

O candidato apoiado pelo PCP foca-se nas críticas à união económica e monetária e aos constrangimentos decorrentes da integração e da moeda única. Edgar Silva não quis fazer declarações sobre aquele que é um dos temas fraturantes com o PS: a saída do euro. No entanto, tem expressado a sua posição, como aconteceu em alguns dos debates, alinhada com o programa eleitoral do PCP: preparar "com todo o cuidado" o país para essa possibilidade.

Para Edgar Silva, pode haver outro caminho. Acredita na capacidade dos portugueses de o decidir e não ficarem limitados a uma solução. "Como se não restasse a Portugal e ao povo outra possibilidade que não a da continuação da abdicação da soberania e independência nacionais - como se o povo português não pudesse mais decidir do seu destino", assinala, notando - sem concretizar de que forma os portugueses poderiam escolher a saída ou não do euro (referendo?) - que confia "na força e nas capacidades do povo para recuperar para Portugal os instrumentos de soberania necessários ao progresso e desenvolvimento do país".

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