Europa aquece debate entre Edgar Silva e Maria de Belém

Presidenciais. O respeito pelo Tratado Orçamental foi a linha vermelha entre os dois. Comunista colou socialista à direita
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Maria de Belém acabou por não dizer ontem - já na parte final de mais um debate sobre as eleições presidenciais (este na SIC Notícias) - se apoiaria Edgar Silva numa eventual segunda volta em que o candidato comunista fosse o representante da esquerda. "Em democracia está tudo em aberto", disse a antiga presidente do PS. Para logo atirar: "Estou convencida que serei eu a passar à segunda volta." E conta com o apoio do PCP, moeda que não devolveu a Edgar Silva.

Não espanta esta omissão na resposta de Maria de Belém Roseira pelo que foi o debate até aí. O candidato comunista provocou a candidata socialista com as suas posições sobre a Europa e Maria de Belém não gostou.

Tudo começou com uma profissão de fé de Belém: "O meu programa é a Constituição da República Portuguesa." Edgar Silva saudou o que disse ser uma mudança na posição da militante do PS, porque Belém teria dito, em entrevistas a jornais, que não hesitaria em demitir o Parlamento se um governo falhasse o cumprimento dos tratados internacionais. "O Presidente da República jura cumprir a Constituição, não vamos jurar o Tratado Orçamental. O que está em causa é a defesa intransigente da Constituição", sinalizou o comunista.

O ambiente aqueceu. Maria de Belém acusou o candidato de manipular as suas palavras. "Não digo isso de uma forma taxativa. Aquilo que eu digo é que o não cumprimento de tratados internacionais em relação aos quais Portugal esteja obrigado pode ser uma razão [para dissolver a Assembleia da República] se ela inviabilizar a nossa participação na União Europeia, porque esta está plasmada na nossa Constituição", esclareceu.

Para a candidata socialista, Portugal não tem "o poder unilateral de mudar as regras", mas tem o "poder de fazer ouvir a sua voz". E acrescentaria que o problema tem sido "os grandes países decidirem unilateralmente" e Portugal "não ser respeitado". "É contra isso que me rebelo." E concluiu que o país deve "fazer valer" os seus interesses em Bruxelas e "exigindo um tratamento de igualdade", mas apontando responsabilidades aos executivos. "É uma negociação que cabe ao Governo. Não temos o poder unilateral de alterar as regras".

Edgar Silva colou então Maria de Belém aos anteriores governantes de direita, irritando ainda mais a socialista. "Pedro Passos Coelho e Paulo Portas disseram isso nos últimos quatro anos", acusou o comunista. "O que a minha candidatura defende é que, custe o que custar, em primeiro lugar nós temos obrigação de defender Portugal e os portugueses. Essa sua posição [é] de uma subserviência inaceitável a interesses estranhos e estrangeiros de Portugal. As políticas que interessam à senhora Merkel não são as que interessam aos portugueses", apontou.

Logo ali Belém acusou Edgar de rasgar assim os tratados internacionais. E carregou nas palavras: "Está a fazer-me aproximar de uma posição de Passos Coelho e Paulo Portas que nunca foi a minha." E puxou da sua biografia política, para afirmar que sempre tinha defendido o contrário. "Não foi o que disse aqui agora", apontou-lhe o comunista. "Não disse o contrário, não esteja a subverter as minhas palavras", ripostou a socialista.

Estava traçada a linha vermelha entre os dois candidatos de esquerda. "O que está em causa é o primado é a Constituição da República Portuguesa, o primado da Constituição", repetiu Edgar Silva. "O Presidente da República tem de garantir que os tratados internacionais são cumpridos", porque também estão inscritos na Constituição, replicou Maria de Belém.

A recapitalização do Banif seria outro pomo de discórdia. Edgar Silva, que em anterior debate tinha dito que viabilizaria o Orçamento retificativo, voltou a explicar que o faria "no atual quadro institucional, que é novo", apesar de ser muito crítico da solução encontrada. " "Era o sentido de responsabilidade", argumentou.

Nas entrelinhas ficou claro: não será por culpa de um presidente que é comunista que o atual Governo do PS cairá. Maria de Belém (que também viabilizaria o Orçamento retificativo) notou, nesse momento, a "incoerência" de Edgar Silva. "Não faz sentido defender que é preciso rasgar" com a União Europeia e, depois, dizer que o Presidente da República tem de ter "sentido de responsabilidade", explicou.

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