Longe das luzes dos holofotes mediáticos, concentrados nas legislativas, o secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) aproveitou o período da campanha eleitoral para juntar os espiões de ambos os serviços, sob sua coordenação, nas mesmas instalações. Todos os funcionários do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) deixaram neste mês o Forte do Alto do Duque, na zona do Restelo, e instalaram-se no Forte da Ameixoeira, na Alta de Lisboa, um edifício onde já está o Serviço de Informações de Segurança (SIS) e os serviços partilhados por ambas as estruturas..Júlio Pereira, procurador-geral adjunto, que dirige as secretas desde 2005, nomeado ainda pelo ex-primeiro-ministro José Sócrates, defendeu em diversas ocasiões a criação de um único serviço de informações, unindo a vertente interna do SIS, com a externa do SIED. A coligação PSD-CDS tinha inscrito a mesma intenção no programa de governo, em 2011, contudo, os escândalos que entretanto atingiram os serviços, não ajudaram a que o PS desse o seu imprescindível aval..A transferência do SIED para o Forte da Ameixoeira, que seria o primeiro passo para a fusão funcional dos dois serviços, estava planeada desde início da legislatura. Era e é justificada, de acordo com fontes que acompanham o processo desde o seu início "por motivos de redução de despesas com os edifícios". O edifício do Alto do Duque, o quartel-general do SIED, é uma construção de finais do século XIX (1875-1890) e tinha encargos anuais com a manutenção da ordem dos 300 mil euros..A adaptação às exigentes necessidades operacionais e técnicas de alta segurança do SIS, nas instalações da Ameixoeira, junto ao eixo norte-sul, na Alta de Lisboa, durou cerca de um ano, e ficou concluída no final de 2007. A sua capacidade para mais de mil pessoas estava longe de ser esgotada. O SIS e os departamentos comuns de apoio à atividade dos dois serviços (recursos humanos, finanças, tecnologias da informação e segurança) não ultrapassam os 600 funcionários e o SIED não ultrapassa a centena de quadros. Ao que o DN apurou, os espiões do SIED, um serviço que equivale à CIA, vão ficar em áreas distintas do edifício, mas podem partilhar a cantina, o ginásio e a piscina interior dos camaradas do SIS..Na coligação PSD-CDS a sucessão de Júlio Pereira - que já terá manifestado a sua disponibilidade em sair - é matéria de preocupação mas, tendo em conta a atual conjuntura política, não prioritária. O que se pretende é uma "transição tranquila, que não cause qualquer perturbação nos serviços", sublinhou ao DN uma fonte partidária. Alguns nomes têm sido falados nos bastidores, como é o caso do de Francisco Pinto dos Santos, procurador da República e muito próximo do atual secretário-geral, "antena" do SIED em Pequim, onde está há mais de 12 anos..No entanto, o facto de estar fora do país há vários anos pode ser um ponto fraco a ponderar. Em 30 anos de existência, assinalados neste ano, o SIS teve oito diretores. Os mais duradouros foram o primeiro, Ramiro Ladeiro Monteiro (1986 a 1994), e o penúltimo, Antero Luís (2005 a 2011), juiz desembargador que saiu para dirigir o Sistema de Segurança Interna..A escolha terá sempre de ter o acordo do PS - ainda mais no presente cenário parlamentar -, partido com o qual, aliás, a coligação conseguiu entendimentos importantes nesta área. Foi aprovada a nova lei-quadro dos serviços de informações neste ano, embora tenha sido chumbada, pelo Tribunal Constitucional, a intenção de permitir que os espiões tivessem acesso, sem mandado judicial, aos dados de tráfego das comunicações telefónicas e internet..Uma diligência que, de acordo com um manual de procedimentos do SIS, que foi divulgado publicamente, já será utilizada nos serviços, mesmo sem apoio legal.